São Paulo, segunda-feira, 1 de setembro de 1997
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Uma noite, em Paris

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - Ainda bem que o direito de informação começa a ser discutido -embora de forma embrionária. O acidente que matou lady Di, em Paris, pode ou não ter sido causado pela insistência da imprensa em perseguir uma pessoa cuja vida particular -segundo a tábua da lei vigorante na mídia- interessa a todos.
Logo, se interessa a todos, ou mesmo a uma parcela considerável da sociedade, a informação se transforma num axioma sagrado, num direito que não pode ser contestado.
Pessoalmente, costumo ser radical quando se discute o direito de opinião. Fui preso seis vezes porque minha opinião contrariava a opinião dominante, tudo bem. Quanto à informação, sou tolerante, pouco sei e pouquíssimo posso informar. E quando informo posso estar errado e aceito que me corrijam.
Daí que não defendo a sacralidade da busca de informações a qualquer preço. Bem ou mal, os outros estão mais ou menos no mesmo caso e podem informar errado, ou de forma facciosa, para formar uma opinião que interessa a grupos ou causas.
No caso de lady Di: que informação tão preciosa poderia ser essa que a mídia internacional buscava? A moça havia jantado com seu amigo, ia dar uma volta. No limite, iria a algum canto fazer com aquele homem aquilo que nossos pais fizeram quando nos geraram ou que nós próprios fazemos quando geramos nossos filhos ou mesmo quando queremos apenas nos distrair.
Argumentar que a sociedade quer saber detalhes da vida pessoal de seus deuses é uma deformação indefensável da natural curiosidade humana. Tanto lady Di como seu companheiro viviam um instante (este sim, sagrado) de privacidade.
Não exerciam, naquele momento, nenhuma atividade que pudesse interessar a qualquer outra pessoa, além deles próprios. Acho que o acidente em Paris deve servir de reflexão a todos nós, profissionais da mídia.

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