São Paulo, terça-feira, 2 de setembro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Crítica recebe filme de Lima Jr. com frieza

AMIR LABAKI
DO ENVIADO ESPECIAL A VENEZA

O concorrente brasileiro "A Ostra e O Vento" foi recebido com frieza na sessão para a crítica da noite de anteontem. O auditório do PalaGalileo (1.300 lugares) tinha um bom público, mas não estava lotado.
Algumas pessoas abandonaram a sessão. Aplausos breves e esparsos foram ouvidos ao fim. A entrevista coletiva da equipe do filme reuniu ontem, entre outros, o diretor Walter Lima Jr., os atores Leandra Leal e Fernando Torres, o diretor de fotografia Pedro Farkas e o produtor e colaborador no roteiro Flávio Tambellini. A primeira pergunta simbolizou certo desconforto frente ao filme: um italiano questionou o cineasta sobre sua nacionalidade, se brasileira ou portuguesa, revelando desconhecer a língua falada no Brasil.
A Folha aproveitou para perguntar ao diretor que reação esperava do público europeu frente a um filme brasileiro que evita clichês como samba, mulatas e meninos de rua. Reconhecendo a ruptura com o imaginário "Brasil de exportação", Lima Jr. disse que "o cinema brasileiro visto na Europa nos últimos 30 anos impôs uma linguagem que procurava agradar a curiosidade do europeu".
"O Brasil não é só mulatas", continuou. "A diversidade é grande e precisa ser mostrada".
Lima Jr. aproveitou para afirmar que "o compromisso do filme é com o cinema e com as razões que fizeram do cinema uma arte de encantamento deste século". Ao invés de "do Brasil", classificou seus personagens como "da tela".
O verdadeiro termômetro crítico são as resenhas que devem ser publicadas hoje. De todo modo, filmes com reações de sala piores que "A Ostra e O Vento" triunfaram na história recente do festival, como o vietnamita "O Ciclista".
Não que "A Ostra e O Vento" seja favorito. Nem é o melhor Walter Lima Jr. Os melhores momentos são averbais, com os personagens interagindo entre eles e com os elementos da natureza, flertando com o cinema mudo.
"Inocência", do próprio Lima Jr., é a referência básica para a trama central do despertar da sexualidade de uma adolescente. Mas faltam a "A Ostra..." a mesma solidez dramatúrgica e similar harmonia entre as interpretações.
(AL)

Texto Anterior: FRASES
Próximo Texto: "Forzûs" põe o dedo na ferida da Itália
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.