São Paulo, terça-feira, 2 de setembro de 1997
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"Forzûs" põe o dedo na ferida da Itália

AL
DO ENVIADO ESPECIAL A VENEZA

O italiano "Forzûs" pauta a polêmica do ano. Quase teve sua exibição judicialmente embargada.
A estréia foi domingo, dentro da mostra italiana "Imagens entre Crônica e História". A procura foi tanta que houve até sessão extra na madrugada de ontem.
O diretor Renzo Martinelli, em seu segundo filme, põe o dedo numa chaga da história recente italiana. Em fevereiro de 1945, a facção comunista da Resistência antifascista massacrou membros da facção católica do movimento.
Entre as vítimas estava o poeta Guido, irmão de Pier Paolo Pasolini. Forzûs foi o local da carnificina, próximo a Veneza.
O filme é uma recriação expressionista do episódio.
Recompõe a tragédia pelo confronto de dois protagonistas: o líder do massacre, rebatizado como Geko, e um dos sobreviventes, rebatizado como Storno. O primeiro refugiou-se na Iugoslávia, enquanto o segundo aposentou-se como general.
Geko, na verdade, era "Giacca", apelido de Mario Toffanin, 85. Foi ele que tentou vetar a exibição, antes mesmo de ver o filme. Apenas aguçou a curiosidade. Surge como um Stalin de província, vaidoso e cruel.
Fidelidade aos fatos
A acuidade histórica não parece ser o maior problema de "Forzûs". "Pesquisei mais de dez anos", disse o diretor.
A dramatização dos fatos não comete erros como emprestar nomes reais a personagens, se preservando dos problemas que isso causou a "O Que É Isso, Companheiro?", para ficarmos num exemplo nacional recente.
O pecado maior é de tom. Martinelli fez um filme histriônico. Todos os atores "superinterpretam", os diálogos soam como manifestos, a música não poupa corais e violinos. O conjunto, ao invés de nos aproximar, nos afasta do drama.
Apesar disso, "Forzûs" deve correr mundo. Seus direitos internacionais de distribuição foram adquiridos pela norte-americana Buena Vista. Martinelli conseguiu ser didático, quase esquemático, sem ceder ao maniqueísmo. Filmes imperfeitos também escrevem a história do cinema. Sobretudo quando derrubam tabus.

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