São Paulo, terça-feira, 2 de setembro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Curiosidade paga fotos

EDER CHIODETTO
EDITOR-ADJUNTO DE FOTOGRAFIA

O Mercedes de Diana e Al Fayed espatifou-se num muro, em Paris, a uma velocidade aproximada de 200 km/h. A primeira hipótese levantada pela polícia francesa foi a de que o motorista corria para tentar despistar um paparazzi que seguia o carro de moto.
Paparazzi é o fotógrafo que se dedica a conseguir imagens exclusivas que revelam o que pessoas famosas fazem na intimidade. Eles sobrevivem vendendo essas imagens para revistas e tablóides sensacionalistas. Podem enriquecer da noite para o dia.
Foi o caso do fotógrafo que flagrou Diana e Al Fayed namorando num iate no mar Mediterrâneo. As estimativas são de que ele já ganhou com essas imagens em torno de US$ 3 milhões.
Diana, sem dúvida, foi a mulher mais perseguida da história pelas ávidas lentes desses fotógrafos. O mito da professora que virou princesa atingiu em cheio o imaginário popular, que viu ali realizado, no outro, o desejo de uma súbita escalada social.
Além disso, as histórias de adultério, divórcio e novas paixões, acontecendo no seio da família real britânica, foram uma combinação explosiva para a mórbida curiosidade, primeiro dos ingleses, e por extensão, do mundo inteiro.
Os paparazzi e seus veículos, portanto, existem para responder essa demanda do prazer pela devassa da vida dos ídolos. O limite ético da imprensa, nesse caso, é diretamente proporcional à ética de quem consome a notícia. Não se paga US$ 3 mihões por uma foto se o interesse em vê-la não for gerar um lucro maior.
Estamos vivendo um momento em que os deuses migraram para as páginas de revistas e para a tela da TV. Dessa forma, um ídolo pop vai paulatinamente perdendo sua condição de pessoa comum para tornar-se um ser imantado, uma imagem que cresce muitas vezes à revelia dele próprio.
Há ainda a ambígua ligação entre o ídolo assediado e a imprensa que o espreita por cima do muro. Lady Di usava muito bem a mídia para se mostrar amável e filantrópica com crianças aidéticas e vítimas de explosão de minas.
Para tanto, era preciso manter a atenção da mídia voltada para ela, ainda que o preço fosse o da negação de sua privacidade. Nessa relação simbiótica e doentia, a existência dos paparazzi era desconfortável para a princesa, mas a idéia da inexistência deles seria insuportável.

Texto Anterior: Tablóide alemão publica foto do acidente que matou Diana
Próximo Texto: Jornais londrinos trocam acusações sobre assédio à família real britânica
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.