São Paulo, terça-feira, 2 de setembro de 1997
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Linchando os linchadores

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - Na catarata de emoções que se seguiu à morte da princesa Diana, foram linchados os linchadores (a mídia). Era mais ou menos previsível. Tão previsível quanto inútil.
A reação mais sensata que ouvi, nos incontáveis "o povo fala" emitidos em vários idiomas, foi de uma senhora entrevistada pela TV francesa.
"As pessoas deveriam parar de comprar esses jornais, que são uma m...", foi o seu palpite, referindo-se aos tablóides sensacionalistas.
Perfeito. Pena que inexequível. As pessoas vão continuar comprando os tablóides, que, aliás, em geral vendem mais do que os chamados "quality papers" (os jornais de qualidade).
No fundo, os paparazzi nada mais são do que um elo da cadeia na inexorável lei da oferta e da procura: enquanto o público demandar fotos dos famosos (ou nem tanto) em poses indiscretas, escandalosas ou inconvenientes, haverá oferta.
Ou, em outras palavras, enquanto houver lugar na alma humana para o comércio dos baixos instintos, haverá paparazzi e haverá tablóides.
Claro que se pode (e se deve) impor limites, mas os limites já estão dados pela lei. Se um paparazzo arrombar a porta da casa do Tom Cruise para fotografá-lo pelado, deve ser preso, não por bisbilhotice, mas por arrombamento, o que, de resto, é mais grave.
Assim como os fotógrafos que perseguiam o carro de Diana deveriam ser presos, se provas houver, por direção perigosa (ou qualquer outra figura do gênero que conste nos códigos franceses). Não por invasão de privacidade.
Quando alguém se candidata à Presidência da República ou se casa com o herdeiro da Coroa britânica, abdica voluntariamente da privacidade, pelo menos dentro dos limites acima descritos. É cruel? É. Mas a vida é assim.
No fundo, linchar a mídia, em especial os tablóides (pelos quais, aliás, não tenho a mais leve simpatia), é tentar tapar o buraco da fechadura, na impossibilidade de furar os olhos de quem adora olhar por ele.

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