São Paulo, quarta-feira, 3 de setembro de 1997
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Racismo acontece mais no trabalho

FERNANDA DA ESCÓSSIA
DA SUCURSAL DO RIO

Pelo menos seis em cada dez casos de discriminação racial registrados em delegacias de São Paulo são de discriminação no trabalho. Os dados são da pesquisa "Direito e Relações Raciais", feita pelo advogado negro Hédio Silva Júnior.
Os dados, obtidos com exclusividade pela Folha, foram coletados em 15 delegacias de São Paulo entre julho de 1996 e maio de 1997. O advogado estudou 250 boletins de ocorrência e nenhum deles resultou em condenação dos acusados.
Pelo menos 60% dos registros indicam que a discriminação aconteceu no local de trabalho, especialmente nos processos de admissão e demissão de funcionários.
"Na admissão, a discriminação é implícita. Fala-se de pessoas mais qualificadas, vagas já preenchidas. Na demissão, o racismo é explícito: o empregador costuma afirmar claramente que 'não gosta de preto"', afirma Silva Júnior, 36, coordenador do Ceert (Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades).
Síntese da pesquisa será apresentada hoje no encontro "Superando o Racismo", no Rio de Janeiro, com organizações negras do Brasil, dos Estados Unidos e da África do Sul, que vai até amanhã.
Cerca de 20% dos registros indicam o que o advogado chama de "racismo intersubjetivo" -"difícil de provar, porque está nas relações interpessoais"- e outros 20% revelam a discriminação no acesso de negros a serviços como escolas, bancos e diversões.
O trabalho do advogado, mestrando da PUC-SP, foi financiado pelo Ministério da Justiça e pela União Européia.
Para combater o racismo no trabalho, o movimento negro busca apoio no sindicalismo. Três sindicatos paulistas, assessorados pelo Ceert, conseguiram incluir nos contratos coletivos cláusulas de combate à discriminação.
Uma das cláusulas recomendadas pelo Ceert é a introdução, em cada empresa, de informações sobre a cor dos funcionários, para que se tenha o controle da presença de negros entre os contratados.
Outra é o estabelecimento de critérios para "desempatar" uma disputa de vagas, como preferir negros em caso de empate, por eles serem mais discriminados.

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