São Paulo, quarta-feira, 3 de setembro de 1997
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CNI prevê déficit abaixo de US$ 10 bi

MAURO ARBEX
DA REPORTAGEM LOCAL

O crescimento das exportações nos últimos meses e a estabilidade das importações, resultado de um menor nível da atividade econômica, podem reduzir o déficit da balança comercial do país para menos de US$ 10 bilhões.
Economistas e especialistas do mercado ouvidos pela Folha concordam que há uma mudança favorável do cenário das contas externas, tendência que já vinha sendo percebida desde julho.
As projeções de déficit de US$ 13 bilhões a US$ 14 bilhões, feitas no primeiro semestre, não têm mais defensores.
O "Informe Conjuntural" divulgado ontem pela CNI (Confederação Nacional da Indústria), por exemplo, revê o déficit do ano dos US$ 11 bilhões, previstos antes pela entidade, para "ligeiramente abaixo dos US$ 10 bilhões".
"As exportações de produtos manufaturados estão crescendo e as importações mantêm um ritmo de estabilidade", afirma Flávio Castelo Branco, subchefe do departamento de economia da CNI.
Os dados da entidade indicam crescimento de 18,7% nas exportações de manufaturados nos últimos dois meses e estimam que as vendas externas se mantenham elevadas até o final do ano.
Argentina compra mais
Para a CNI, o bom desempenho das exportações neste momento -que foram sustentadas no segundo trimestre pelas vendas de produtos básicos- se deve aos parceiros do Mercosul, principalmente a Argentina.
"A fase favorável da economia daquele país está ajudando as vendas do setor automotivo e as realizadas entre indústrias, de empresas que têm unidades nos dois países", diz Castelo Branco.
Pelo lado das importações, a expectativa é de que a atividade mais lenta da economia neste segundo semestre mantenha as compras externas estáveis.
"As nossas projeções de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) são de 3,1% e o ritmo menor da atividade interna, além de reduzir as importações, obriga as empresas a procurar mais o mercado externo", diz Luis Fernando Lopes, economista-chefe do banco Patrimônio/Salomon Brothers. No ano passado, o PIB do país cresceu 2,9%.
Fernando Lopes lembra que em julho já havia projeções de déficit menor da balança, que não se confirmaram porque nos últimos dois dias do mês a Petrobrás fez grandes importações. O déficit acabou fechando em US$ 811 milhões.
Para o vice-presidente financeiro do banco ABC-Roma, Alfredo Morais, o saldo negativo menor em agosto, divulgado ontem pelo governo, não surpreende. Ele aposta num déficit anual em torno de US$ 10 bilhões.
"Desde julho, percebia-se que a atividade econômica vinha crescendo menos. Medidas adotadas pelo governo, como o aumento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) nos financiamentos a pessoas físicas, foram entendidas pelos agentes econômicas e o desaquecimento ocorreu", afirma.
Conforme Fábio Augusto Pina, analista econômico do banco Fenícia, "a qualidade do déficit hoje é melhor". Em sua opinião, o ganho obtido com a safra agrícola e com as vendas de produtos básicos no primeiro semestre deve ocorrer agora com os manufaturados.
Segundo Castelo Branco, da CNI, o impacto sobre as importações hoje é menor, já que há uma nítida queda da demanda de bens de consumo duráveis, que têm um peso grande nas compras externas.
Conforme o levantamento da entidade, a média diária das exportações, que no final do ano passado era de apenas US$ 180 milhões a US$ 200 milhões, está agora entre US$ 240 milhões e US$ 250 milhões. Já a média diária das importações está estável, em cerca de US$ 250 milhões.

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