São Paulo, quarta-feira, 3 de setembro de 1997
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Os planos de engorda de bois

LUÍS NASSIF

Reservadamente, estão se reunindo em Brasília representantes de diversos ministérios -coordenados pelo secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Pedro Parente- para analisar a questão dos contratos de parcerias -essa infinidade de planos de venda de bois, patos, marrecos, galinhas e afins, para engorda.
A reserva se justifica. Teme-se que se possa estar diante de problema de economia popular de proporções enormes.
Essas empresas passaram a proliferar nos últimos anos, muitas delas oferecendo taxas de rentabilidade impossíveis, investindo pesadamente na mídia, sem nenhuma espécie de controle. Chegou ao conhecimento do grupo proposta de contrato de parceria até para a criação de avestruzes no Ceará.
Os cuidados do grupo são de duas ordens:
1) preservar o contrato de parceria, como alternativa moderna de financiamento de atividades agropecuárias;
2) enorme preocupação na abordagem dos estoques de animais que deveriam garantir os contratos.
Teme-se efeito em cascata que possa estourar as correntes da felicidade de algumas dessas empresas -que só continuariam a operar por estarem pedalando a bicicleta. Na verdade, esse receio é infundado. Se não houver lastro para os contratos, quanto mais tempo se passar para intervir nesse mercado, maior o número de mortos e feridos.
Membros do grupo
Participam do grupo representantes do Ministério da Agricultura, da Justiça, da Fazenda e da Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
A idéia é definir uma nova conceituação para valores mobiliários, permitindo que esse tipo de atividade seja submetida à fiscalização oficial -tema, aliás, que abordei na coluna de sexta-feira passada.
No momento, a regulação desses contratos é feita só no Ministério da Justiça, pelo mesmo órgão que fiscaliza disque 0900 e bingos. A idéia é definir como valor mobiliário todo contrato de investimento colocado no mercado de maneira pública. Com isso, essas companhias seriam submetidas à fiscalização da CVM.
Já foram realizadas duas reuniões do grupo. Na última, foram convidados alguns empresários do setor que -segundo depoimento de membros da comissão- estavam interessados na regulação -para separar o joio do trigo.
De qualquer modo, sinais de dificuldades de uma das empresas que operam no setor devem precipitar os fatos nas próximas semanas.

E-mail: lnassif@uol.com.br

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