São Paulo, quarta-feira, 3 de setembro de 1997 |
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'Miramar' é lançado em mostra de Veneza -97 AMIR LABAKI
O cineasta brasileiro Júlio Bressane ("Matou a Família e Foi ao Cinema") lançou na segunda-feira, dentro da mostra paralela Oficina Veneziana, seu novo filme, "Miramar". Foi uma projeção para poucos, as entre os presentes encontram-se figuras do porte de Ulrich Gregor, diretor do Fórum de Berlim, e Adrienne Mancia, ex-curadora do MoMA nova-iorquino. Fazia concorrência a Bressane ninguém menos que Harrison Ford. Duas salas repletas assistiam ao thriller "Força Aérea Um". "Miramar" dá sequência ao projeto bressaniano de desenvolver uma mitopoese carioca. O jovem Miramar sucede aqui como protagonista o João do Rio de "Tabu" (1982) e o Mário Reis de "O Mandarim" (1996). A onipresença do mar, o fascínio do cinema hollywoodiano e da música popular brasileira (incluindo seus cruzamentos), a herança literária portuguesa e o rito carnavalesco são os elementos culturais essencialmente trabalhados. O argumento organizado fragmentariamente é o de um romance de formação com acento trágico. Nascido numa culta família burguesa, Miramar ganha uma viagem internacional, voltando após o suicídio de seus pais. Apaixonado por cinema, encontra brevemente uma produtora, envolve-se com uma atriz e começa a rodar filmes, sem muito jeito para a coisa. Mas para Bressane, como reafirmou ontem, "entrecho é uma aberração". Raras vezes, contudo, foi tão clara a base dramática sobre a qual tece suas referências. As literárias principais são "Memórias Sentimentais de João Miramar", de Oswald de Andrade, e "Memórias Póstumas de Brás Cubas", de Machado de Assis. As cinematográficas partem da Hollywood clássica, usada exclusivamente para compor com diálogos a banda sonora de várias partes do filme, e chegam às três homenagens centrais segundo Bressane: "A Sorridente Madame Boudet", de Germaine Dullac, "Je Vous Salue Marie", de Godard, e "Orfeu", de Jean Cocteau. O experimento central de "Miramar", a quase total dissociação entre as imagens e a banda sonora (isto é, o som não acompanha mecanicamente o que é mostrado), revela-se tímido frente à contribuição godardiana nesta área específica. À sinfonia de vozes, música e ruídos do diretor de "JLG por JLG", Bressane contrapõe uma trilha quase sempre unidimensional, que funciona melhor quanto mais dramaticamente interage com as imagens -um paradoxo com a intenção original. O antinaturalismo da encenação do entrecho sofre com o amadorismo do intérprete de Miramar, João Rebello. Para romper com o estabelecido, é preciso dominar a técnica, como demonstram no próprio filme Giulia Gam e Fernanda Torres. Para compensar, "Miramar" traz as mais belas imagens do Rio filmado por Bressane (dividam-se os elogio com o fotógrafo José Tadeu Ribeiro) e apresenta uma depuração no ritmo que o faz raramente entediar. É parada obrigatória para bressanianos, mas pode ser que agrade até a parte de seus desafetos. Texto Anterior: Coluna Joyce Pascowitch Próximo Texto: Zhang Yimou é o mais aplaudido Índice |
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