São Paulo, quarta-feira, 3 de setembro de 1997 |
Texto Anterior |
Próximo Texto |
Índice
Paparazzi estão em cartaz no festival
LEON CAKOFF
Coincidentemente, num momento em que os paparazzi viram vilões reais, ganha mais realce o símbolo do festival deste ano com o seu cartaz em homenagem ao ator Marcello Mastroianni, que morreu em dezembro de 96. A sua foto no cartaz é de "A Doce Vida", de Fellini, justamente o filme que criou o adjetivo para jornalistas/fotógrafos impertinentes. O documentário "Wild Man Blues", de Barbara Kopple, sobre a turnê do clarinetista Woody Allen com seu grupo amador de jazz pela Europa, também trata do assunto. As maiores críticas do filme são à imprensa fotográfica italiana e aos políticos locais, que tentam tirar proveito da proximidade com Woody Allen. A interferência do ator-músico é brilhante ao dar um basta nesses oportunistas que invadem o seu palco antes do concerto em Roma. Mesmo num documentário, Woody Allen não consegue deixar de atuar e criar piadas sobre a sua mitológica tendência paranóica. Um documentário que faz rir é o máximo do anticonvencional. Kieslowski Alguns dos melhores filmes da programação são dedicados (ou inspirados) ao polonês falecido Krysztof Kieslowski. O melhor de tudo vem do Canadá, em forma de vídeo. São os seis episódios dedicados a suítes de Bach, com solos de violoncelos a cargo de Yo-Yo Ma. A produção destacada entre as seis é a dirigido por Atom Egoyan. O episódio de Egoyan é "Sarabande", com a "Suíte nº 4", de Bach. Uma personagem é médica e também violoncelista. Ela é vista fazendo dueto com Yo-Yo Ma e atendendo a seus pacientes. Um deles tem câncer irreversível. É justamente o motorista que leva Yo-Yo Ma do aeroporto ao local do concerto. É no trânsito engarrafado que Yo-Yo Ma e o chofer discorrem sobre a alma da música e falam com emoção inocente da função terapêutica da música. A mão de Kieslowski também levita sobre o inspirado filme "História de Amor", do ator e diretor polonês Jerzy Stuhr. Ele foi ator de Kieslowski em seu primeiro e censurado filme, "A Cicatriz", esteve também em "Amador" e em "A Igualdade é Branca". Jerzy Stuhr aparece no filme em cinco papéis diferentes. Em todos eles os personagens se dirigem a um mesmo edifício, como que para acertar as contas com Deus ou com o Diabo. Um é militar, outros são um professor universitário, um padre e um traficante preso. Ao longo do filme eles têm suas chances de regeneração. O militar faz uma revisão de seu passado. Depois de haver servido para os russos, está aprendendo inglês e pensa seguir carreira na burocracia da Otan. O professor, outra vez em nome da carreira, prefere continuar em solidão a receber o amor sincero de uma aluna. Militar e professor perdem assim a oportunidade de continuarem vivos. Texto Anterior: Zhang Yimou é o mais aplaudido Próximo Texto: Ah, eu tô tabule! Maluf é o frango da Metro! Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |