São Paulo, quarta-feira, 3 de setembro de 1997
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Viva o centro

GILBERTO DIMENSTEIN

Revertendo longa onda de pessimismo, pesquisas de opinião revelam que os habitantes de Nova York nunca estiveram tão encantados com a cidade.
Sinal desse encantamento são os preços estratosféricos dos aluguéis. Difícil encontrar estúdio do estilo jaula num prédio razoavelmente habitável por menos de R$ 1.500 mensais.
Urbanistas tentam entender as razões da mudança tão brusca do humor do nova-iorquino. A queda da criminalidade seria apenas um pedaço (e talvez nem o mais relevante) da explicação.
Eles apostam num efeito psicológico -uma hipótese para entender o mau humor dos habitantes da maioria das grandes cidades brasileiras.
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É o efeito Times Square, o centro da cidade, onde estão os teatros da Broadway.
Como a região de Times Square melhorou, está mais limpa, segura, menos mendigos, com novos prédios, ocorreria uma contaminação de otimismo para todo o resto da cidade.
Seria algo semelhante a uma pedra jogada no lago, irradiando em círculos.
"Quando o centro está mal, todo o resto é afetado. A cidade dá a impressão de inviabilidade", explica um dos brasileiros mais apaixonados por Nova York que conheço, o arquiteto e urbanista Jaime Lerner.
Daí a relevância de uma experiência no coração de São Paulo -cidade que, por sua importância, ajuda a moldar o humor de todo um país.
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Articulado por empresários e dirigentes sindicais, o movimento Viva o Centro tenta reocupar o espaço urbano, investindo não apenas nas fachadas dos prédios, mas nas escolas e cuidando dos meninos de rua.
Trabalhando ao lado do Viva Rio e com apoio do Governo Federal, eles preparam, agora, um extraordinário símbolo -o Natal sem morte.
A idéia é envolver os estudantes para que saiam nas ruas pedindo civilidade aos motoristas. Donos de bares seriam instruídos a chamar policiais caso percebam sinais de briga.
Ruas vão ser ocupadas por artes, esportes e música. Pintores vão ser convidados a fazer junto com jovens grafites charmosos em muros deteriorados.
Num acordo com o governo do Estado e prefeitura, haveria um esquema especial de policiamento preventivo.
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Há um fato internacional que certamente vai favorecer a criar o clima da campanha. Em novembro, ocorre em São Paulo o encontro da ONU para o desarmamento.
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PS - Utopia? Diziam que Nova York não tinha mais jeito, estava condenada ao colapso. Hoje é o mais avançado laboratório social do mundo.

E-mail: gdimen@aol.com

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