São Paulo, quarta-feira, 3 de setembro de 1997
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A GANGORRA DO DÉFICIT

A balança comercial brasileira registrou em agosto seu menor déficit em um ano. Como mostra o gráfico, a deterioração dessa conta vem de longe. Aliás, no início da estabilização houve uma corrida por importados e uma queda das exportações, em boa medida como resultado da valorização do real em relação ao dólar e da abertura da economia.
O governo chegou a celebrar o resultado, atitude que foi dando lugar a um pragmatismo mais responsável, sobretudo depois da crise mexicana.
O pragmatismo tem muitas faces, algumas das quais bastante discutíveis. O esforço do governo vai do sistema de bandas cambiais aos programas de apoio a exportadores ou à substituição de importações, passando pela contenção do consumo.
Sem dúvida, várias dessas medidas podem estar dando resultado. Como os dados ainda não são conclusivos, é cedo para comemorar o eventual surgimento de uma nova tendência.
Mas há um aspecto sobre o qual não há dúvida: mais uma vez se confirma o conhecido e velho mecanismo (dos anos 80) que consiste em frear o crescimento para melhorar o resultado da balança comercial. Crescer menos e portanto consumir menos significa importar menos.
Como se vê no gráfico, a deterioração do saldo no comércio exterior já é observada antes do Plano Real. A queda no saldo tem início em 1993 e 1994, ou seja, quando foi sendo superada a recessão do Plano Collor (1990-91) e a abertura continuou.
O modelo de política econômica atual supõe serem "imexíveis", ou passíveis apenas de melhoras lentas, o câmbio, as tarifas sobre importados, as contas públicas e o "custo Brasil". Nesse contexto, reduzir ou não o déficit comercial, em especial contendo as importações, responsáveis maiores pelo desequilíbrio externo, traduz-se no velho dilema: crescer mais ou crescer menos.

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