São Paulo, quinta-feira, 4 de setembro de 1997
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Os sem-memória

JANIO DE FREITAS

Muito engraçadas as conclusões dos dirigentes nacionais do PSDB, reunidos em torno do governador Mário Covas para identificar o conteúdo de campanha capaz de dar aos peessedebistas, não incluído o presidente-candidato, melhores perspectivas eleitorais do que, pelos dados atuais, podem esperar das disputas em que não sejam apoiados pelo PMDB ou o PFL.
A chave milagrosa foi descoberta em certo conteúdo de discurso, que os peessedebistas devem desenvolver sob a forma de compromissos, ponto a ponto, com o eleitorado. A pesquisa de pontos-compromissos foi profícua: antes de qualquer outro, a luta contra o desemprego; a melhoria urgente e ampla da assistência à saúde; amparo à velhice e às crianças, com providências drásticas na educação e estímulos à frequência escolar; claro, tudo, pela reforma agrária, pela habitação, e sem esquecer, jamais, da reforma policial e do melhor poder aquisitivo dos funcionários e dos assalariados.
Formidável. Só faltou aos dirigentes do PSDB esticar a pesquisa temática à leitura do programa do seu partido. Tudo o que eles discutiram e concluíram está no programa do PSDB há oito anos. Mas não no governo do PSDB.
Não há, entre os governos civis da história administrativa brasileira, um caso de partido que, assumindo o poder, levasse tão longe a traição ao seu programa e aos compromissos da campanha.
Lógica nacional
Encarregada do processo sobre as mortes de Paulo Cesar Farias e Suzana Marcolino, a promotora Failde Mendonça, logo em seguida à divulgação dos novos exames técnicos que desmontam a ficção do crime passional, pede licença para se afastar das atividades a título de tratamento de saúde.
É o prosseguimento, com lógica inegável, das protelações que a promotora vinha fazendo há meses, em vez de reabrir o inquérito sobre a morte de PC, argumentando então com a existência improvada de "processos mais importantes".
A informação corrente é de que seis delegados, entre eles o próprio diretor do Departamento de Polícia de Alagoas, recusaram-se, sucessivamente, a assumir a nova etapa de investigações.
Mas não é tudo. Há indícios, ainda, de que também a Polícia Federal e mesmo o Ministério da Justiça não estão desejosos de novas investigações, dada a probabilidade do seu envolvimento nelas. Ou seja, os medos ou as vantagens opostos à investigação da morte de PC Farias não se limitam ao território da brutalidade dominante em Alagoas. O que indica haver mais nesse caso do que supõe nossa vã imaginação.

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