São Paulo, quinta-feira, 4 de setembro de 1997
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Santa Casa desiste de fazer interrupção

RONI LIMA
DA SUCURSAL DO RIO

A Santa Casa de Misericórdia -que pertence a uma irmandade católica- voltou atrás e se recusou ontem a provocar a interrupção da gravidez de 27 semanas (quase sete meses) da dona-de-casa Regina Fernandes da Silva, 25.
Regina carrega um feto portador de anencefalia (anomalia que consiste em ausência de abóbada craniana), que não tem condições de sobreviver após o parto. Ela aguardava ontem autorização para a intervenção.
A direção da Santa Casa, no centro do Rio, teria sofrido pressões de religiosos. Regina seria submetida ontem a uma indução do parto normal ou a uma cirurgia cesariana para a retirada do feto.
Pela manhã, na Santa Casa, Regina recebeu a visita de um grupo de católicos, que tentou convencê-la a não fazer a intervenção. Segundo um médico, um casal do grupo conseguiu ter acesso à dona-de-casa, na enfermaria.
Anteontem, o chefe da equipe de plantão da 33ª enfermaria da Santa Casa, Mário de Barros Filho, havia dito que a direção não desrespeitaria uma decisão judicial.
Regina recebeu na segunda a autorização do juiz da 14ª Vara Criminal, Marcus Henrique Pinto Basíli. Mas ontem foi transferida para o Hospital Maternidade Praça Quinze, no centro.
O secretário municipal de Saúde, Ronaldo Gazolla -que é espírita-, encaminhou o caso para a Procuradoria Geral do Município do Rio, que deverá dar o parecer final sobre a intervenção.
Sem previsão
A secretaria informou que a intervenção em Regina em uma unidade municipal só será feita se houver parecer favorável. Não há na secretaria, porém, uma previsão de quando o parecer pode sair.
A direção da Santa Casa não se pronunciou sobre o caso. Por duas vezes, a Folha ligou para o gabinete do diretor da Santa Casa, Dahas Zarur. A informação foi que ele não estava e que três médicos deveriam falar sobre o assunto. Nos setores determinados, informaram que os médicos não estavam.
O marido da dona-de-casa, o católico Kleber Conradesqui, 30, reclamou não ter sido informado previamente pela Santa Casa da transferência da mulher.
Ao chegar à maternidade, na tarde de ontem, ele não respondeu às perguntas dos repórteres. Depois, disse achar que havido acontecido "um problema religioso", pois até as freiras da Santa Casa estariam criticando sua mulher.
A advogada de Regina disse que não caberia no caso uma ação contra a Santa Casa, já que o alvará do juiz é apenas uma autorização -e não uma ordem judicial- para interrupção de gravidez em qualquer hospital da rede pública ou privada.

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