São Paulo, quinta-feira, 4 de setembro de 1997
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Alemão que roubou está em lista de vítima

LUIZ ANTÔNIO RYFF
DA REPORTAGEM LOCAL

O marchand alemão Hans Wendland, que é listado em documento do governo norte-americano como sendo um dos elos da comercialização de obras pilhadas pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial, aparece também na lista de 1.756 contas inativas divulgadas pelos bancos suíços.
A maioria dos nomes da lista é judia -já que sua divulgação só ocorreu por insistência da comunidade judaica. Segundo o Congresso Mundial Judaico e o Centro Simon Wiesenthal, ela relaciona alguns criminosos de guerra.
Apesar de sua relação comercial com o regime nazista no pós-guerra, Wendland era, provavelmente, judeu, segundo o livro "Europa Saqueada", da norte-americana Lynn Nycholas. Isso explicaria sua inclusão na lista.
Wendland, que teria passado pelo Brasil após a Segunda Guerra, é apontado pelo relatório "Looted Art in Occupied Territories, Neutral Countries and Latin America" (Arte Pilhada em Territórios Ocupados, Países Neutros e na América Latina), elaborado pelo Office of Strategic Services (OSS) dos EUA em 1945, como agente da galeria Fischer.
Localizada em Lucerna (Suíça), a galeria era um dos elos do esquema de venda de obras pilhadas.
No esquema montado pelos nazistas, as obras eram enviadas para a Suíça -país neutro durante da guerra- por mala diplomática. Lá, eram comercializadas com alguns marchands e repassadas adiante. As obras costumavam deixar a Europa por navios com bandeira neutra.
Wendland não possuía cidadania suíça e não podia comercializar os quadros no país. Por isso, eles eram vendidos por intermédio da galeria Fischer.
A partir de 41, o marechal Hermann Goering (o segundo na hierarquia nazista) desenvolveu um sistema de escambo. Trocava obras consideradas "degeneradas" (cubistas, surrealistas, pós-impressionistas etc.) por obras mais clássicas, que iam para os acervos alemães ou dos dirigentes nazistas.
Para Lynn, o homem por trás desse esquema era Hans Wendland. Segundo ela, o sistema também foi usado em outros países.
Na primeira troca, um marchand francês sócio de Wendland levou o "Retrato de um Homem de Barba", de Ticiano, até o museu Jeu de Paume, onde os nazistas guardavam o produto do saque. Saiu com 11 quadros (entre Matisse, Picasso, Degas, Cézanne, Corot, Braque, Sisley e Renoir).
Em troca de um Rembrandt e duas tapeçarias, Wendland recebeu de Goering 25 quadros de primeira linha -entre os quais "Pequena Paisagem", de Van Gogh.

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