São Paulo, quinta-feira, 4 de setembro de 1997
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Britânicos confirmam liderança em Veneza

AMIR LABAKI
ENVIADO ESPECIAL A VENEZA

A aposta se confirmou: a capital do cinema europeu hoje -e um dos mais interessantes centros de produção mundial- é mesmo a Grã-Bretanha.
Nem é preciso esperar hoje o encerramento do ciclo paralelo "British Renaissance" (Renascença Britânica), com o drama de época "The Wing of the Dove", de Iain Softley.
Vai longe a era em que François Truffaut podia sustentar que "cinema britânico" era um oxímoro. A produção inglesa vive hoje uma bonança apenas similar em sua história à explosão do "free cinema" dos anos 50, de Tony Richardson e Lindsay Anderson.
Reconheça-se, contudo: a crítica italiana Irene Bignardi ("La Repubblica") tem lá suas razões ao considerar um certo exagero o título. Se é possível falar em "renascimento", mais próprio seria datá-lo a partir de meados dos anos 80, com a chegada da geração de Stephen Frears, Peter Greenaway e Neil Jordan, entre outros.
Mas a safra presente em Veneza renova o fôlego dessa onda britânica. Encabeça o lote "Wilde", de Brian Gilbert ("Tom & Viv"). É a cinebiografia definitiva de Oscar Wilde, o brilhante dramaturgo de "Salomé". Julian Mitchell assina um roteiro impecável a partir da bela biografia escrita por Richard Ellmann (Companhia das Letras).
Retrata-se sobretudo a coerência entre a vida e a estética de Wilde. Stephen Fry parece ter nascido para o papel, tamanha a semelhança física e a naturalidade da composição. Indicação para o Oscar é o mínimo.
Fry não faz o primeiro Wilde das telas -Peter Firth e Robert Morley o precederam em filmes dos anos 60-, mas certamente será o definitivo.
Em menos de duas horas, "Wilde" consegue sintetizar com eficiência a trajetória do escritor, de seu relacionamento tenso com a mãe irlandesa militante (Vanessa Redgrave) ao processo homofóbico que o levou à cadeia e encurtou-lhe a vida.
Reconstitui-se com especial profundidade a relação entre Wilde e Constance Lloyd (Jennifer Ehle, estupenda), com quem se casou e teve filhos antes da tardia opção pelo amor de rapazes.
Aposta-se muito também no lançamento, no fim do mês na Inglaterra, de "Face", de Antonia Bird ("Padre"), exibido ontem.
A onda parece demasiada ( o filme conseguiu número quase recorde de salas para uma co-produção da BBC), ainda que "Face" seja um policial perfeitamente assistível, na linha de "Cães de Aluguel". O ponto alto são os ladrões que se autodevoram após um roubo menos lucrativo do que o esperado, além da estréia no cinema de Dalmon Albarn, do grupo Blur.

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