São Paulo, quinta-feira, 4 de setembro de 1997
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Fotógrafo narra sua chegada ao acidente

DO "LIBÉRATION"

Leia a seguir depoimento do fotógrafo Jacques Langevin, investigado por suposta participação no acidente.
*
"Eu me sinto como se tivesse caído numa armadilha. No sábado à noite eu estava de plantão, ou seja, podia ser encontrado a qualquer momento pelo celular. Por volta das 22h30, estava jantando na casa de amigos quando fui avisado da chegada de Lady Di. Como aquilo não me entusiasmava muito, deixei para lá, mas, meia hora mais tarde, um colega me telefonou e me convenceu a ir até a praça Vendôme. Lá, ficamos sabendo da presença de Al Fayed e cada um de nós cobriu uma das duas entradas do Ritz. Fizemos fotos da saída. Um trabalho muito clássico. Quando terminou, eles (Lady Di e Al Fayed) subiram em sua Mercedes.
Alguns fotógrafos resolveram segui-los. Quanto a mim, decidi voltar ao jantar e fui buscar meu Golf velho, que não teria podido rivalizar com o Mercedes. Foi então que aconteceu um acaso inacreditável, que, sob outras circunstâncias, teria sido a sorte grande.
Eu só teria tido uma chance em dez de seguir o mesmo itinerário que eles, e foi o que me aconteceu... Passei pela avenida e vi algo fora do normal. Percebi primeiro um carro de polícia, um ajuntamento de pessoas e um carro acidentado quando passei por ele e parei.
O acidente acontecera havia dez minutos. O carro estava cercado por policiais, bombeiros e fotógrafos, sem nenhum incidente. Os bombeiros retiraram o corpo de Al Fayed e se ocuparam das outras vítimas. Os policiais verificaram nossos cartões de imprensa e nos empurraram para a esquerda. A circulação foi interrompida.
O que fiquei sabendo, bem mais tarde, foi o seguinte: o Mercedes saiu da praça Vendôme, seguida por alguns fotógrafos de moto. Todos chegaram normalmente até o farol da praça de la Concorde. Foi então que o Mercedes arrancou à frente, antes de o sinal ficar verde, avançando em direção à entrada da via. Me contaram que já durante a travessia da Concorde o Mercedes estava ziguezagueando e seu motorista parecia não mais ter controle do carro. Fiquei sabendo também que, no momento do acidente, foram os fotógrafos que chamaram o socorro de urgência, com seus celulares. É provável que alguns tenham feito fotos imediatamente e partido.
Para retornar ao meu caso, éramos um grupinho e fizemos nossas fotos. Foram chegando cada vez mais policiais. Primeiro uniformizados, depois à paisana, depois os figurões. Com a chegada destes, o ambiente ficou mais tenso. Quanto a mim, tenho quatro ou cinco fotos tiradas a uma distância de 15 metros, sob os olhares dos policiais, que haviam montado uma pequena barreira.
Já vi outros incidentes como esses, mas não me sinto bem nesta história, estou farto dela, porque ela não corresponde a minha natureza e a meu tipo de trabalho. Resolvi ir embora. Nesse momento os policiais nos empurraram até o meio do túnel, onde nos fizeram esperar e depois nos levaram. Nem por um instante imaginei que seria detido e posto sob investigação. Tudo me parece tão absurdo e estúpido que mal consigo acreditar.

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