São Paulo, quinta-feira, 4 de setembro de 1997
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RACISMO NO TRABALHO

Um requisito mais comum em antigos anúncios de emprego excluía os candidatos que não apresentassem "boa aparência". Na prática o recado visava negros, pardos ou outras aparências indesejáveis para uma sociedade que majoritária e assumidamente discrimina negros -87%, segundo pesquisa Datafolha. Levantamento feito por um pesquisador da PUC do Rio indica que a discriminação racial no trabalho nem faz parte do passado nem é incomum -representa pelo menos 60% dos casos de racismo que chegaram a delegacias de São Paulo desde meados de 1996.
Os dados são referentes a queixas e não a sentenças julgadas, mas no mínimo eles refletem a tensão num ambiente relacionado a uma questão central do racismo brasileiro: a do trabalho, a das condições concretas de vida, a da condição social.
Negros e pardos ganham menos do que brancos. Foram deixados à míngua quando extinguiu-se a escravidão e vêm sofrendo as consequências da continuidade dessa injustiça na história subsequente do país. Historicamente condenados à falta de oportunidades sociais, são pontualmente discriminados pela cor. Trata-se de um preconceito cruzado, o do "preto-pobre-criminoso", o que tende a fazer com que a desigualdade pareça natural e reforça a condescendência com tal situação.
Se é evidente que o combate à discriminação depende de reformas sociais, isso não deve levar à acomodação em relação à prática cotidiana do preconceito. Alguns centros que lidam com a questão já procuram aumentar a consciência sobre o problema da discriminação nas empresas, discutindo o tema até mesmo em contratos coletivos de trabalho, com o objetivo de incrementar, assim, a pressão contra o preconceito. A presença de negros em cargos "normalmente" reservados a brancos ajuda a desfazer a idéia de que a cor da pele determina naturalmente a posição social de alguém. É sem dúvida insuficiente, mas apenas leis, e temos muitas delas, não bastam.

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