São Paulo, quinta-feira, 4 de setembro de 1997
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O PT e as alianças

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - O PT discutiu em nível de convenção se devia ou não fazer alianças. Acredito que continuará discutindo -é por aí que o partido sofre sua maior crise de identidade. Quando se fala em alianças, lembro Winston Churchill durante a Segunda Guerra Mundial.
A Inglaterra estava a um passo da destruição total quando Hitler abriu a frente contra os russos. No Parlamento e nas ruas discutia-se se o povo inglês -que a si mesmo se vê como encarnação das virtudes e dos grandes ideais- deveria ou não se aliar a Stálin, considerado um bárbaro. Churchill definiu a questão: "Se o demônio for contra Hitler, eu me alio ao demônio".
Com isso, ganhou a guerra e salvou a humanidade de uma era de trevas. Se ficasse em sua posição de vestal, a história poderia ser diferente.
Aplicando o exemplo ao PT. Evidente que não se pode demonizar Fernando Henrique. Pessoalmente, ele até que é um boa praça, nada tem de repugnante. A questão é que fez uma opção desastrosa, diria até criminosa, pelo conjunto de prioridades que, grosso modo, leva o nome de neoliberalismo.
Esse sim, pode e deve ser demonizado. O nazismo exterminou milhões de pessoas, menos porém do que os milhões que estão sendo ceifados pela truculência do mercado que cria e amplia a exclusão social e econômica de parcela considerável de seres humanos.
A luta do momento é essa. Não se trata de tirar FHC do poder e sim de substituir aquilo que ele, vaidosa e levianamente, representa. Para isso, a formação de uma grande frente popular seria necessária.
E será impossível formar essa frente popular sem o PT. Daí a necessidade de alianças, se for o caso, até com o demônio, se acaso o demônio sofrer um ataque de solidariedade humana.
Para impedir Collor e combater o autoritarismo, formaram-se estranhas alianças. O horror econômico que nos é imposto é mais nefasto do que a ditadura e a corrupção.

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