São Paulo, sexta-feira, 5 de setembro de 1997
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Rio acelera retirada de mendigos das ruas

SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

Com o objetivo de retirar a população sem-teto das ruas, a Prefeitura do Rio criou em Copacabana (zona sul) um serviço telefônico já apelidado de "disque-mendigo" pelos moradores do bairro.
A prefeitura e o governo estadual aceleraram em agosto o recolhimento de mendigos e menores de rua. A retirada tem sido creditada por mendigos à proximidade da visita de João Paulo 2º.
Com medo de não conseguir ver o papa, o pedreiro desempregado José Carlos dos Santos, 45, tem trocado as noites a céu aberto do aterro do Flamengo (zona sul) pelas ruas do centro do Rio.
Santos disse que vive há três anos como mendigo, sempre no aterro, onde João Paulo 2º rezará missa.
"O jeito foi deixar de dormir lá. Prefiro o centro, que está mais sossegado. Quero ver o papa de qualquer jeito. Não vou para a Fazenda Modelo (abrigo de mendigos) de jeito nenhum", afirmou.
Há uma semana, foram espalhadas por Copacabana faixas, preparadas pela prefeitura, conclamando os moradores a denunciar a presença de mendigos: "Hoje, neste bairro, não tem ninguém morando nas ruas. Caso encontre, ligue para 521-2884 e 521-3293".
O arcebispo do Rio, d. Eugênio Sales, disse ontem ser a favor do recolhimento de mendigos e menores sem-teto. "O governo deve tirar da rua e arrumar casa, mas não houve um pedido por parte da arquidiocese", afirmou ele, para quem "a rua não é lugar de morar e dormir, mas de transitar."
D. Eugênio disse que, para o papa ter a chance de "ver a cidade como ela é", participarão da missa rezada por João Paulo 2º na Catedral Metropolitana cerca de cem mendigos e cem menores de rua.
O escritório de advocacia Jus Postulandi, especializado no atendimento a pessoas carentes, entrou na Justiça contra o recolhimento de mendigos por entidades estaduais e municipais.
Oficialmente, prefeitura e Estado negam que a internação de sem-teto em abrigos públicos seja motivada pela chegada do papa, que estará no Rio entre 2 e 5 de outubro.
Vaticano
João Paulo 2º recebeu ontem no Vaticano as chaves simbólicas do Rio das mãos do prefeito Luiz Paulo Conde (PFL). "Estas chaves abrem as portas da cidade, mas meu desejo é que abram os corações das pessoas", afirmou o papa, segundo o prefeito carioca.

Com agências internacionais

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