São Paulo, sexta-feira, 5 de setembro de 1997
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Cineasta espera pela chegada do grande momento

MARCELO REZENDE
DA REPORTAGEM LOCAL

Também um ex-crítico e um jovem esperançoso com o cinema que, em nome de uma missão, torna-se um cineasta. André Téchiné, 54, é parte da história comum a vários nomes que fizeram, no final dos anos 50 e meados dos 60, a nouvelle vague na França.
Mas não um homem de primeira hora, mas um garoto do segundo momento.
Quando realizou seu primeiro filme, "Paulina s'en Va" (1967), os cineastas Jean-Luc Godard e François Truffaut já eram, havia 10 anos, dois dos mais famosos mestres do movimento que pretendia reescrever a gramática cinematográfica, rompendo com toda forma de academicismo.
Por culpa dessa trajetória, sobre Téchiné sempre pesou uma incômoda suspeita: seria ele um seguidor fiel ou apenas um diluidor?
Durante a década de 70, com "Memórias de uma Mulher de Sucesso" (1975) ou "Barroco - O Jardim do Suplício" (1977), os que apontavam nele não talento, mas afetação, pensaram ter argumentos irrefutáveis.
Um solitário, apontado por parte da crítica de seu país como um dos mais aborrecedores cineastas em atividade, Téchiné teve a sorte mudada quando encontrou uma jovem atriz, descoberta por Godard atrás do balcão de uma loja de departamentos. Juliette Binoche.
Com "Rendez-Vous", surge o sucesso. Prossegue em uma carreira irregular, obcecado pela solidão, a "vida triste" e a claustrofobia emocional -o pesadelo de seus personagens doentiamente cartesianos, os suicidas da razão de que "Minha Estação Preferida" (1993) serve de exemplo.
Um ano mais tarde, oferece aos detratores "Rosas Selvagens", uma obra essencialmente autobiográfica, em que conta a descoberta do homossexualismo.
O cenário escolhido é a França em plena dúvida moral, repensando os passos e parecendo se arrepender de cada um deles durante a guerra pela independência da Argélia.
Com "Rosas", há então um novo Téchiné. Ou talvez o mesmo, só que capaz de olhar para mundo e se desviar de um universo extremamente pessoal que, durante anos, foi para tantos impenetrável.
Depois de "L'Enfant de la Nuit" (1995), um trabalho que não cumpriu as expectativas criadas por "Rosas", surge com "Os Ladrões" (1996), um melancólico ensaio sobre a incapacidade de amar. Agora, retorna a Binoche. Agora, ganha mais uma chance.

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