São Paulo, sábado, 6 de setembro de 1997 |
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O teatro da agonia
NELSON DE SÁ
"Vera está vivinha", rejubilou-se o Aqui Agora. A cobertura sensacionalista e os "súditos" ingleses, entrevistados e pesquisados, reclamaram sem parar e os príncipes adolescentes, filhos de Diana, foram trazidos às câmeras para encenar publicamente seu luto. Também a rainha Elizabeth foi obrigada a encenar um pronunciamento enlutado para as câmeras, lendo do "teleprompter", ao vivo na CNN. Estavam nas repercussões do pronunciamento quando entrou a "breaking news", a notícia: - Mother Teresa dies. Madre Teresa morre e o âncora perdido, às pressas, sem ter o que acrescentar e sem ter sequer a confirmação plena da nova morte, chamou um obituário gravado descaradamente muito antes. Na sequência, imagens de madre Teresa com Diana, a morta com a morta. E o papa que foi ator se recolhendo para rezar. E o eco de Vera Fischer no Faustão, clamando contra a cobertura que levou à morte de Diana. E Madonna, na MTV. E os âncoras da BBC vestidos de negro, diante do carro funerário. O teatro da morte alucina a televisão e esta leva à obsessão a audiência global. * No ritual encenado da morte, o Fantástico não errou ao citar "Hamlet", domingo. Era uma fala de Ofélia, na tragédia. Vai outra, do príncipe diante da morte do pai, e do ritual de aparências: - Não é o luto fechado das fantasias, que os costumes exigem, nem os suspiros ofegantes, nem o rosto abatido. São ações, boa mãe, que qualquer ator representa. O que eu tenho não parece, nem aparece, nas pompas e paramentos deste teatro de agonia. Texto Anterior: Mudança na regra é 'golpe', diz tucano Próximo Texto: FHC lança pacote com três projetos de lei Índice |
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