São Paulo, sábado, 6 de setembro de 1997
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Vicentinho pede que FHC ouça o 'Grito'

LUIS HENRIQUE AMARAL

LUIS HENRIQUE AMARAL; EMANUEL NERI
DA REPORTAGEM LOCAL

Ato ocorre amanhã

O presidente da CUT (Central Única dos Trabalhadores), Vicente Paulo da Silva, disse ontem que o presidente Fernando Henrique Cardoso precisa "tirar o lodo da piscina do Palácio do Planalto das orelhas para ouvir o grito dos excluídos".
A declaração foi feita em entrevista sobre o "3º Grito dos Excluídos", realizada na sede regional da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), em São Paulo.
O porta-voz da Presidência da República, Sergio Amaral, disse que o presidente não iria comentar as críticas feitas por Vicentinho.
O "grito" acontecerá amanhã em cerca de 800 cidades do país. Ele é promovido pela CNBB com o apoio da CUT, do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e da CMP (Central dos Movimentos Populares).
O bispo responsável pela Pastoral Social da CNBB, d. Demétrio Valentini, disse durante a entrevista que a troca de farpas entre a entidade e o presidente Fernando Henrique "está superada".
Anteontem, FHC disse que não estava se referindo à Igreja Católica e ao MST quando afirmou que a solução dos problemas sociais do país não sairia como mágica da "batina" ou do "boné".
Após o recuo de FHC, d. Demétrio disse ontem declarou apenas "em tese" que o presidente tinha desqualificado as críticas da igreja por "petulância intelectual".
"O presidente está atento ao 'grito' e isso é um bom sinal. Ele percebeu a importância do movimento", disse d. Demétrio.
Os símbolos do ato serão o apito e o cartão vermelho. Além do presidente FHC, deverão receber o cartão temas como "fome" e "corrupção".
D. Paulo
Menos conciliador que d. Valentini, o cardeal-arcebispo de São Paulo, d. Paulo Evaristo Arns, afirmou ontem, que o "grito" vai protestar contra o governo.
"O Brasil deve reclamar contra a falta de política social mais organizada. Se o povo não fizer pressão, a política não reage", disse o cardeal. Para ele, a referência à batina feita por FHC foi "infeliz".
Segundo d. Paulo, "todos os brasileiros esperavam mais ação social" do governo: "Vamos ver se daqui para a frente o Fernando Henrique e o Mário Covas fazem aquilo que prometeram", disse.
Vicentinho também criticou as declarações do presidente. "Ele precisa se mancar, um presidente não poder ficar fazendo declarações toscas e rancorosas", disse.
União
Sobre a união entre a CNBB e grupos como a CUT e o MST, Vicentinho afirmou que esse é um "direito" das entidades. "O Fernando Henrique se une com o que há de pior na direita, por que nós não podemos nos unir aos bispos, que sempre lutam pela vida?"
Segundo Gilberto Portes, da direção nacional do MST, o "grito" será realizado em todos os assentamentos e acampamentos do país.
A manifestação mais importante do "3º Grito dos Excluídos" vai acontecer na cidade de Aparecida (170 km a noroeste de São Paulo). São esperadas 70 mil pessoas.
Segundo a Folha apurou, os bispos ligados à ala "conservadora" da CNBB (que defende um menor envolvimento da igreja com a política) vetaram os discursos de políticos durante o "grito".
Amanhã, em Aparecida, representantes de grupos de "excluídos", como sem-terra, sem-teto e índios, deverão falar uma frase representando seu "grito". Não deverá haver discursos de lideranças.
Os presidentes nacionais do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, e da CUT, Vicentinho, ficarão com os manifestantes, e não no palanque.
O veto aos discursos foi aceito por bispos "progressistas" para que o "grito" entre no calendário de eventos oficiais da CNBB.

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