São Paulo, sábado, 6 de setembro de 1997
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Justiça prevê análise lenta para caso da TAM

DA REPORTAGEM LOCAL

A análise do inquérito da Polícia Federal sobre a explosão no interior do Fokker-100 da TAM no dia 9 de julho será demorada, segundo o procurador da República Paulo Taubemblat. Ele vai analisar o caso com o procurador Pedro Barbosa.
O inquérito, remetido anteontem para a Justiça Federal, concluiu que o responsável pela explosão foi o professor Leonardo Teodoro de Castro, que está internado em estado grave na UTI do Hospital São Paulo.
Segundo os delegados da PF, foi Castro quem fabricou, colocou e detonou a bomba no interior do avião. O acidente provocou a morte do engenheiro Fernando Caldeira de Moura, ejetado para fora do avião a uma altitude de 2.400 metros.
Castro foi indiciado sob as acusações de homicídio doloso, agravado pelo fato de ser uma explosão, e tentativas de homicídio contra tripulantes e passageiros, agravadas por ser explosão e por ter menores de idade a bordo do avião.
"A análise será demorada por causa da complexidade do caso. Tudo será feito com muita calma", declarou Taubemblat. A PF diz ter reunido sete provas contra Castro. Leia a seguir quais são e as alegações do advogado de defesa do professor, Tales Castelo Branco.
*
A VALISE - Funcionários da TAM entregaram aos delegados da Polícia Federal uma valise preta, contendo em seu interior um par de óculos e uma caixa de papelão, que tem uma etiqueta com a inscrição "protótipo" datilografa. A caixa de papelão, no formato de um tijolo, estava vazia.
A mala foi apresentada aos delegados da PF como sendo do passageiro Leonardo Teodoro de Castro, que estava internado, com os tímpanos perfurados, no hospital do Jabaquara.
Tanto a mala como a caixa de papelão têm manchas de tinta látex branca. Segundo a polícia, as mesmas manchas estavam espalhadas pelo chão do apartamento do professor, como se fossem respingos de uma pintura.
Em seu depoimento à PF, Castro reconhece como seus os óculos encontrados na valise preta. No entanto, ele nega que a pasta seja sua. Posteriormente, exames laboratoriais em retalhos da valise encontram resíduos de enxofre e nitrato de potássio (dois dos elementos empregados na bomba).
O advogado Tales Castelo Branco considera estranho o resultado das análises. "Se a bomba estava toda embrulhada, em jornal e com fita adesiva, e estava dentro de uma caixa de papelão, é muito estranho esses vestígios terem passado para o interior da pasta."

A CAIXA DE PAPELÃO - A caixa de papelão encontrada no interior da mala preta, atribuída como sendo de Castro, era amarrada, em duas extremidades, com pedaços de barbante.
Na região interna da caixa são encontradas manchas de tinta látex branca. A caixa de papelão tem uma etiqueta com a inscrição "protótipo".
Exames laboratoriais nos barbantes encontram resíduos de enxofre. Para os delegados da PF, a caixa foi utilizada como uma espécie de disfarce para transportar a bomba.
Para Castelo Branco, a inscrição "protótipo" não "quer dizer absolutamente nada". Com relação ao enxofre encontrado no barbante, ele afirma que é preciso esclarecer como foi feita a coleta do material. "Pode ter havido contaminação na remessa do material para o laboratório. Isso é comum."

A MÁQUINA DE ESCREVER - Exames mecanográficos confirmam que a inscrição "protótipo" da etiqueta colada na caixa de papelão foi datilografada em uma máquina de escrever da marca Olivetti apreendida no apartamento do professor.
Para os policiais, a confirmação revela que Castro mentiu em seu primeiro depoimento e reforça a suspeita de que ele tenha sido os responsável pela explosão, pois a caixa de papelão estava dentro da valise que tinha resíduos de substâncias relacionadas ao explosivo.
Castelo Branco também desconsidera qualquer relação da etiqueta com a acusação feita contra seu cliente. "Ele era um professor de desenho industrial, isso pode significar qualquer coisa."

A LUVA - Para a Polícia Federal, essa é uma das principais provas de que Castro fabricou a bomba dentro do seu apartamento.
Uma luva branca descartável foi encontrada durante a última revista que a polícia realizou na residência do professor. Essa busca foi feita em conjunto com técnicos da Aeronáutica.
Exames laboratoriais encontraram na luva todos os elementos utilizados na fabricação da bomba (enxofre, nitrato de amônio e nitrato de potássio).
"Esse é um ponto crucial, que precisa ser analisado com muita cautela", afirma Castelo Branco. O advogado questiona o fato de os policiais não terem encontrado essa luva nas duas primeiras vezes em que estiveram no apartamento.
"No primeiro dia, o delegado não viu a luva, não viu nada. Por que ela só aparece depois? Questiono se a luva estava lá mesmo."

A FITA ADESIVA - Segundo a PF, a bomba estava confinada em papel jornal, preso com pedaços de fita adesiva marrom. Um pedaço, que também tinha todos os resíduos da bomba, foi encontrado dentro do avião.
No apartamento de Castro, a PF encontra um rolo de fita adesiva. Na ponta, um pequeno pedaço de jornal. "Como no caso da luva, tenho a mesma suspeição", afirmou Castelo Branco.

O BARBANTE - No apartamento de Castro, a PF afirma ter encontrado um rolo de um barbante igual ao utilizado para fazer as amarras na caixa de papelão. "Eu tenho três rolos de barbante em casa. É um indício muito frágil", declara o advogado.

O JORNAL - Pedaços de páginas de jornal com os mesmos resíduos da bomba foram encontrados no que sobrou da poltrona onde o artefato explodiu. Segundo a PF, antes de colocar a bomba embaixo da almofada da poltrona, o suspeito a colocou dentro de páginas das edições São Paulo e Brasil do dia 9 de julho de "O Estado de S. Paulo".
Para os policiais, apenas Castro, que saiu de São Paulo em direção a São José dos Campos no próprio dia 9, teria condições de comprar as duas edições. Para Castelo Branco, o jornal poderia ter sido usado pelo verdadeiro autor do crime como forma de despistar e confundir as investigações.

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