São Paulo, sábado, 6 de setembro de 1997
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Menem pode ter estimulado veto ao açúcar

FERNANDO GODINHO
DE BUENOS AIRES

O governo argentino está atuando de forma ambígua em relação à lei que condiciona a redução do II (Imposto de Importação) aplicado sobre o açúcar brasileiro ao fim dos mecanismos de incentivo previstos pelo Proálcool.
A discussão dessa lei se transformou no novo atrito comercial entre os dois países, e a estratégia adotada pelo presidente Carlos Menem (Argentina) está preocupando as autoridades brasileiras.
A Folha apurou que a Casa Rosada -sede administrativa do governo argentino- não se opôs à articulação dos senadores que derrubou, na quarta-feira, o veto presidencial à lei (repetindo uma decisão da Câmara dos Deputados).
A ambiguidade do governo Menem estaria sendo demonstrada pelo fato de que as críticas à decisão do Congresso estão partindo apenas de setores mais técnicos (ministérios da Economia e das Relações Exteriores).
A desconfiança em relação ao governo argentino foi reforçada pelo fato de que não houve a participação de ministros políticos nas negociações com os congressistas sobre o assunto.
As negociações foram conduzidas pelos ministros Roque Fernández (Economia) e Guido Di Tella (Relações Exteriores), que possuem pouca influência junto ao Congresso argentino -entendem as autoridades brasileiras.
O governo brasileiro aguarda uma posição mais clara de Menem para dissipar suas dúvidas em relação à estratégia do seu principal parceiro no Mercosul.
As eleições parlamentares do próximo mês estão determinando a atuação ambígua de Menem nessa questão, apurou a Folha.
A derrubada ao seu próprio veto foi comandada pelos senadores das Províncias de Jujuy, Salta e Santa Fé, localizadas no norte do país e governadas pelo Partido Justicialista (o mesmo de Menem).
Trigo
O deputado Paulo Bornhausen (PFL-SC) propôs ontem a suspensão da compra do trigo argentino sem Imposto de Importação em resposta às medidas restritivas à importação de açúcar brasileiro.
"A decisão reflete o inconformismo de membros do Congresso com toda essa situação. Acho que é uma manifestação legítima", afirmou o ministro Luiz Felipe Lampreia (Relações Exteriores).
O ministro, no entanto, disse que o assunto deve ser tratado com "cautela" para não "pôr em risco" as relações entre os países.
"Temos de levar a coisa com toda cautela, porque não podemos pôr em risco esse patrimônio extraordinário que é a relação do Brasil com a Argentina e todos os interesses que derivam daí."

Colaborou a Sucursal de Brasília

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