São Paulo, sábado, 6 de setembro de 1997
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Japoneses têm sua hora

LEON CAKOFF
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Depois dos iranianos, chega a vez do cinema independente japonês. A edição passada da revista norte-americana "Newsweek" dedicou nada menos que seis páginas aos novos e explosivos talentos.
A Miramax americana comprou os direitos de "Shall We Dance?", e Cannes dividiu a sua Palma de Ouro em maio passado entre o iraniano Abbas Kiarostami ("Gosto de Cereja") e o mestre japonês Shoei Imamura ("A Enguia").
E, agora, Veneza consagra Takeshi Kitano, um novo mestre ovacionando por "Hana-bi" (Fogos de Artifício) -filme gângster-minimalista do diretor festejado mundialmente por "Sonatine" e "Kids Return".
Este é o maior acontecimento para novos talentos japoneses desde os anos 50, quando ninguém perdia filmes de Mizogushi, Kurosawa, Shindo e Ozu. "Apesar de possuir a Columbia e ter uma distribuidora para filmes de independentes, não temos ajuda da Sony e nem de outras corporações japonesas, que preferem investir só no cinema de Hollywood, e nem temos muito espaço nos cinemas do nosso país", diz uma produtora japonesa, presente em Veneza, e que pede para não ser identificada.
Satoshi Isaka, 37, destaque no festival de Berlim em fevereiro passado com "Focus", disse à "Newsweek" que pertence à "geração dos três nãos". "Sem compromisso, sem emoção e sem direção. O perigo é pararmos de pensar e deixar simplesmente que outros pensem por nós."
Kitano, que também atua em seus filmes, se diz espantado com o sucesso no exterior. "No Japão ninguém vai ver os meus filmes. Sou popular apenas na televisão, mas, ao contrário do cinema, devo tomar cuidado com o que brinco."
"Fiz piadas na televisão sobre a yakuza, a máfia japonesa, e recebi ameaças. Fui obrigado a entrar num carro e levado a uma mesa de bar para beber com um bando de gente armada que não abria a boca. Minha filha insiste para eu parar com isso, que não quer ficar orfã."
Nesta semana Veneza exibiu outro filme japonês -"Kokkuri", de Takahisa Zeze. Trata-se de uma arrepiante incursão no terreno do espiritismo, um tipo de filme que se leva para casa, para a cama e para os sonhos. Zeze é a vítima, na medida exata, do abandono a que foi relegada essa fornada de talentos -como muitos no Brasil, sobreviveu nos anos 70 e 80 como cineasta rodando o que no Japão ficou conhecido como "pink film" e, entre nós, como pornochanchada.

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