São Paulo, sábado, 6 de setembro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Aos 36, religiosa teve 'inspiração divina'

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

Agnes Gonxha Bojaxhiu (1910-1997), mais conhecida por seu nome religioso de madre Teresa de Calcutá, foi uma personagem singular neste final de século 20.
Não conseguiu por seu único exemplo alastrar as práticas filantrópicas, numa época em que o culto ao individualismo produz uma massa de seres humanos voltados em direção a si mesmos.
Mas se manteve -e foi mantida- em evidência por representar a possibilidade de cultivar valores opostos. Tornou-se uma espécie de espelho em que cada um poderia ver refletida a imagem idealizada de um mundo baseado na solidariedade entre os homens.
Madre Teresa também se impôs por um assistencialismo para muitos antiquado, diante da necessidade de cobrar do Estado políticas sociais e distributivas de renda.
A Ordem das Missionárias da Caridade, que ela fundou em 1949, está hoje implantada em todo o mundo. Ela foi Prêmio Nobel da Paz (1979) e recebem todas as condecorações internacionais importantes. Há um contraste entre essa consagração tardia e a rotina de absoluto isolamento em que madre Teresa viveu parte de sua vida.
Outro contraste está no exercício anônimo e isolado da caridade, que passou a praticar ao chegar aos 19 anos à Índia, e a grande máquina de ajuda aos desvalidos que sua ordem religiosa, justamente por causa dela, acabou por se tornar.
Agnes nasceu na cidade de Skopje, na atual Macedônia, pequena República dos Bálcãs que integrava a Iugoslávia. Foi em 27 de agosto de 1910. Aos 12 anos, demonstrou vocação para ser religiosa.
Aos 18, sob a influência de irmãs irlandesas, prestou seus votos na Ordem de Loreto. É transferida para um convento da Irlanda, de onde, no ano seguinte, partiria para Calcutá. Passa a lecionar geografia numa escola agregada a seu convento de religiosas.
Foi apenas aos 36 anos que Agnes diz ter recebido um "apelo divino" para dali em diante se dedicar apenas aos pobres. Torna-se auxiliar de enfermeira, treinada por freiras norte-americanas. Em dezembro de 1948, obtém a autorização para abrir uma espécie de escola-orfanato numa das favelas mais pobres de Calcutá.
A ordem seria criada no ano seguinte. Aos três votos tradicionais das freiras católicas (pobreza, castidade e obediência), acrescentou a obrigação de compartilhar da precariedade dos mais desvalidos.
Torna-se cidadã indiana. Abre em 1957 seu primeiro leprosário. Inspiraria em 1963 a aparição de uma ordem missionária masculina, chefiada por um padre australiano radicado em Calcutá.
Dois anos depois, Paulo 6º concedeu autorização pontifícia a sua ordem religiosa. Na mesma época, as Missionárias da Caridade instalam sua primeira missão fora da Índia. Foi na Venezuela.
Com a década de 70, seu nome adquire rápida projeção internacional. Participa da Conferência Internacional da Mulher (1975), da ONU, na Cidade do México. Torna-se uma ativista no movimento católico contra o aborto. Com mandato do Vaticano, critica a Teologia da Libertação.
Em 1986, sobrevive a um acidente aéreo na Tanzânia. Sua saúde já era precária. Havia três anos que problemas cardíacos forçaram a implantação de um marcapasso.
Adoece com frequência. É operada nos EUA e na Índia. Reduz o ritmo de suas atividades, mas permanece nominalmente como superiora de sua congregação até março de 1997.

Colaboraram o Banco de Dados e as agências internacionais

Texto Anterior: REPERCUSSÃO
Próximo Texto: CRONOLOGIA
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.