São Paulo, sábado, 6 de setembro de 1997
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Israel tem pior derrota no Líbano desde 85

CLÓVIS ROSSI
DO CONSELHO EDITORIAL*

Israel sofreu as mais pesadas perdas em um único dia, desde que criou em 1985 o que chama de zona de segurança no sul do Líbano, quando, no início da madrugada de ontem, 12 soldados israelenses foram mortos em combate e quatro ficaram feridos, um deles seriamente.
Um grupo de comandos israelenses desembarcou na cidadezinha de Ansariah, no litoral libanês, mas foi surpreendido por uma emboscada de dois diferentes grupos, o Hizbollah (Partido de Deus, financiado pelo Irã) e o Amal (principal grupo xiita do Líbano, apoiado pela Síria).
Duas horas de combate, que envolveram também soldados do Exército libanês, deixaram dez soldados e um oficial médico mortos e um 12º soldado desaparecido, dado depois como morto.
Além dos quatro feridos do lado israelense, também sofreram ferimentos dois soldados libaneses, quatro do Amal e dois do Hizbollah. Segundo comunicado do Exército libanês, morreram também dois civis, uma mulher e um jovem, e seis ficaram feridos.
As circunstâncias em que ocorreram as mortes não estavam claras até ontem à noite.
Ahmed Baalbeki, líder do Amal, diz que os comandos israelenses foram mortos por bombas deixadas na área por seu grupo e pelo Hizbollah.
Nota oficial das Forças Israelenses de Defesa confirma apenas parcialmente a informação: diz que, quando os comandos estavam a caminho de sua missão, houve "forte explosão contra ela, seguida de explosões adicionais". Mas diz que muitas das baixas foram provocadas pelos tiros disparados pelos "terroristas".
Por fim, o chefe do Estado-Maior israelense, Amnon Shahak, disse que aparentemente as bombas que seus soldados levavam foram detonadas pelo fogo inimigo.
Tampouco estava explicado o alvo da operação israelense. Para Nabih Berri, principal líder do Amal e presidente do Parlamento libanês, os comandos queriam dinamitar o QG do Amal na cidadezinha de Ansariah.
Mas a agência israelense Itim atribui a fontes não-identificadas a informação de que o objetivo era sequestrar um líder do Amal.
Apelo à contenção
Seja como for, o incidente, ocorrido menos de 24 horas após o atentado suicida ao calçadão Ben Yehuda, no coração de Jerusalém (sete mortos, inclusive os três terroristas, e 172 feridos), só acrescentou tensão em uma região já tradicionalmente explosiva.
Tanta tensão que o porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, James Foley, pediu "o máximo de contenção" a todas as partes.
"É um momento muito delicado no Oriente Médio, e não podemos permitir uma escalada do ciclo de violência", disse Foley.
O apelo não foi obedecido, ao menos no que toca à violência verbal. O presidente do Líbano, Elias Hraui, em visita ao Brasil, disse que a ação israelense fora "um ataque terrorista".
O primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, devolveu: "O Estado de Israel está lutando uma dura e amarga batalha contra desprezíveis terroristas em duas frentes, cujo objetivo é destruir o Estado de Israel e matar seus cidadãos".

*Com agências internacionais

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