São Paulo, sábado, 6 de setembro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Israel congela o processo de paz

CLÓVIS ROSSI
DO CONSELHO EDITORIAL*

Israel formalizou ontem o congelamento do processo de paz com os palestinos, em nota oficial emitida após a reunião do Comitê Ministerial de Segurança.
A nota diz: "Israel não pode continuar em um rumo que daria territórios adicionais à ANP (Autoridade Nacional Palestina), enquanto a ANP não cumprir todas as suas obrigações, primariamente seu compromisso de combater o terrorismo nos territórios já sob seu controle".
Pelos acordos de paz, Israel deveria retirar-se em três etapas dos territórios habitados predominantemente pelos palestinos.
Uma das etapas estava prevista para este mês. A decisão de não promover a retirada formaliza o congelamento dos acordos, já insinuado anteontem pelo primeiro-ministro Binyamin Netanyahu.
A nota do governo contém ainda a ameaça de "agir contra as organizações terroristas e sua infra-estrutura". Como a infra-estrutura do terrorismo, segundo reiteradas denúncias israelenses, está nos territórios hoje administrados pela ANP, a frase pode ser lida como ameaça de invadir áreas palestinas.
Em entrevista coletiva, Netanyahu confirmou indiretamente o congelamento do processo de paz, de resto já virtualmente paralisado, ao dizer: "O que aconteceria quando devolvêssemos mais territórios? Eles seriam transformados em bases para as organizações terroristas e outros grupos".
Nabil Abu Rdainah, porta-voz do líder palestino, Iasser Arafat, assumiu que as decisões israelenses significavam "uma declaração oficial de destruição do processo de paz".
Mas acrescentou que era também uma tentativa de "obstruir a visita da secretária de Estado norte-americana, Madeleine Albright, e de apresentar a ela fatos consumados".
Albright chega terça-feira a Israel, exatamente para tentar "reenergizar" o processo de paz.
Cenas macabras
Se já era uma missão perto de impossível, agora a viagem de Albright se dará em meio a um processo cada vez mais macabro.
Macabro a ponto de Hassan Nasrallah, secretário-geral do grupo fundamentalista Hizbollah, ao negar que houvesse um soldado israelense prisioneiro no sul do Líbano, ter pronunciado a seguinte frase: "Não temos prisioneiro. Temos partes de corpos, incluindo quatro pernas e metade de uma cabeça, das quais faremos uso na moldura de futuras trocas" (por prisioneiros do grupo em Israel).
Os fragmentos humanos são os restos dos soldados israelenses mortos na incursão ao Líbano.
Mas não esgotam a lista de cenas macabras e até de cruéis ironias: uma das mortas no atentado de quinta-feira no calçadão Ben Yehuda é neta do general, já morto, Matitiyahu Peled, pioneiro nos contatos entre autoridades israelenses e autoridades palestinas.
Peled avistou-se com Iasser Arafat em 1984, quase dez anos antes do histórico aperto de mãos entre Arafat e o então premiê israelense, Yitzhak Rabin, em Washington.
Sua neta, Semadar Elkhanan, 14, morreu junto a uma de suas companheiras de classe e, ao lado do corpo, foram encontrados seus cadernos manchados de sangue.
(CR)

*Com agências internacionais

Texto Anterior: Israel tem pior derrota no Líbano desde 85
Próximo Texto: Pedaços de corpos ficam espalhados
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.