São Paulo, domingo, 7 de setembro de 1997
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PV tenta superar estigma de 'exótico' para chegar ao poder

MARCELO RUBENS PAIVA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Enquanto os partidos verdes ganham força na Europa, alcançando o status de alternativa ao poder, o PV brasileiro não decola. Para reverter este quadro, o partido questiona sua aliança com o PT e prepara, em São Paulo, uma lista própria de candidatos ao Legislativo em 1998.
"A burocracia partidária é insana. Tivemos dificuldades para implantar o partido em São Paulo e, no Rio, nos aliamos ao PT. Agora, preparamos o partido para uma maior independência", diz Domingos Fernandes, 51, secretário nacional do PV.
O que era para ser um fiel na balança do eleitorado jovem e órfão de ideologias, é visto só como instrumento de alianças.
"Tentam fazer da gente um partido simpático, exótico, mas não preparado para o poder. Muitas pessoas acham que somos apenas um braço do PT. O PT sempre fala que somos parte da aliança com ele. Mas votamos pela queda do monopólio do petróleo", diz José Luiz Penna, 51, presidente estadual do partido.
Os verdes são o segundo maior partido na Bélgica e o terceiro na Alemanha e Suécia. No Brasil, o PV, que nasceu em 1986 e obteve o registro um ano depois, só elegeu um deputado federal, Fernando Gabeira.
"Temos divergências com a forma centralizadora do PT e com o esgotamento do projeto do PSDB. Inclusive, estamos sendo procurados por políticos desses partidos que querem vir para o PV", diz Fernandes.
Um desses políticos, segundo o secretário nacional, é o deputado federal Celso Russomano (PSDB-SP). Russomano afirma que foi o PV que o procurou: "Como político, tenho de ouvir todo mundo. Me identifico com o PV. Estamos conversando".
Russomano confirma que quatro deputados estaduais e três federais do PSDB analisam a proposta de entrar para o PV.
"Nosso projeto é maior que o do PT. O PV é uma inspiração internacional. É um partido federativo. Cada Estado tem sua dinâmica própria. O Brasil vive uma insolvência partidária. Já apoiamos até o PFL, em Pontal (SP), com o aval do MST", diz Fernandes.
Em 88, o PV elegeu, no Estado de São Paulo, oito vereadores. Em 92, foram 28 vereadores e três prefeitos. Em 96, foram 72 vereadores e seis prefeitos.
O secretário nacional acredita que a política, hoje, é calçada em indivíduos, não em partidos. Diz que o PV não tem um estatuto comum. Lembra que o partido está organizado em 108 países e admite que ainda resiste o estigma de movimento exótico.
"A tarefa que nos cabe, hoje, é sair do estigma da população. Isso só é possível quando chegarmos ao poder", diz Fernandes.
O PV acredita na economia de mercado, defende uma sociedade de desenvolvimento humano sustentável e critica o PT.
"O programa do PT é do século anterior. Defende uma economia estatizada. Somos a favor da privatização. O Estado destruiu a malha ferroviária, que foi construída pela iniciativa privada", afirma Fernandes.
Para o PV, qualidade de vida é o item sobre o qual é escrito seu programa. Eles citam o caso de Santa Bárbara, na Califórnia (EUA), cujo vereador verde foi contra um projeto de trazer indústrias para a cidade, pois alteraria o equilíbrio populacional.
"A indústria do lazer é a que mais cresce, não a da construção. Se o homem não tiver o ócio, corre perigo", diz Fernandes. Para o PV, existem formas de crescer economicamente sem destruir o meio ambiente. "Um grama de veneno de cobra vale mais que uma grama de ouro. É um filão a ser descoberto e que pode trazer dividendos para a cidade de São Paulo", diz Penna.

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