São Paulo, domingo, 7 de setembro de 1997
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Criminalidade extrapola estatísticas

ANDRÉ LOZANO
OTÁVIO CABRAL

ANDRÉ LOZANO; OTÁVIO CABRAL
DA REPORTAGEM LOCAL

Secretário diz que polícia desconhece 30% dos crimes; para ONU, 80% dos roubos não são registrados

A violência que atinge o paulistano é maior do que mostram as estatísticas.
A própria Secretaria da Segurança Pública acredita que 30% dos crimes não chegam ao conhecimento da polícia. Já uma pesquisa feita pela ONU, em 1992, mostra que quase 80% dos casos de roubo não são registrados.
Apesar dessa criminalidade oculta, só a cidade de São Paulo registrou em média 196 roubos e 230 furtos (quando não há violência) por dia nos primeiros sete meses deste ano. Somando os dois, são quase 18 por hora. E são os bairros de classe média, como Perdizes, Vila Mariana e Itaim Bibi que estão no topo dos distritos que mais registram esse tipo de crime.
A baixa notificação da violência ocorre porque a população não comunica à polícia grande parte dos crimes de que é vítima.
Os principais motivos são o descrédito na polícia, o receio de ser mal atendido no distrito policial ou a certeza da ineficiência da investigação.
Sensação de insegurança
É essa discrepância entre a realidade e as estatísticas que provoca uma sensação de insegurança na população.
"A classe média está assustada porque o crime está chegando perto dela", afirma o secretário José Afonso. "Hoje há muitos casos em que a própria classe média passa a ser criminosa."
Em sua opinião, o medo de ser vítima do crime ocorre muito mais àqueles que vivem onde os crimes são mais raros, como os bairros de classe média de São Paulo.
Classe média
A classe média, por ter meios próprios para se defender, é quem menos notifica os crimes que sofre, na opinião do presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB-SP (Ordem dos Advogados do Brasil), Jairo Fonseca.
"É uma atitude racional não ir à polícia", diz Paulo Sérgio Pinheiro, do Núcleo de Estudos da Violência da USP, referindo-se à "ineficiência" e ao "péssimo serviço" oferecido pela polícia.
O Brasil não tem dados recentes sobre o assunto. No entanto, uma pesquisa realizada em 1992 no Rio pelo Unicri, o instituto de pesquisas criminais das Nações Unidas, revela que 79,8% dos casos de roubo não são comunicados à polícia.
Já os roubos de veículos foram comunicados por 92,6% dos cariocas e os casos de crimes sexuais (estupro, atentado violento ao pudor etc.), por apenas 9,8%.
"Casos que envolvem perda de um bem de grande valor (carro, por exemplo), geralmente segurados, são denunciados com mais frequência. Já os casos que envolvem componente vexatório -como de pessoas que são vítimas de pequenos golpes de estelionatários- ou os crimes de natureza sexual não são quase nunca comunicados à polícia", disse o cientista político e pesquisador do Ilanud (Instituto Latino-Americano das Nações Unidas para a Prevenção do Delito e Tratamento do Delinquente), Túlio Kahn.

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