São Paulo, domingo, 7 de setembro de 1997
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Alimento pode curar diabetes e colesterol

MALU GASPAR
DA REPORTAGEM LOCAL

Casca de laranja ou de maçã e uma espécie selvagem de feijão podem ser a resposta fácil e natural para dois males difíceis de ser controlados: o diabetes e as altas taxas de colesterol (gordura) no sangue.
Os efeitos de substâncias extraídas desses alimentos estão sendo estudados pela equipe de pesquisadores da USP em Piracicaba (170 km a noroeste de São Paulo).
O feijão guandu, espécie resistente que nasce sem o auxílio de adubos e aparece entre plantações de outras culturas, está sendo testado -e apresentando bons resultados- no controle do diabetes.
O diabetes é uma doença crônica que ocorre quando a insulina, substância produzida no pâncreas que envia glicose (açúcar) do sangue para as células, não funciona ou não existe em quantidade suficiente. A glicose, então, se acumula no sangue.
As pesquisas com o guandu, iniciadas em 1979, estão em fase final. Testado em ratos com altas taxas de açúcar no sangue, o extrato do guandu verde baixou os níveis de glicose de 400 mg/dl para 92 mg/dl. Os níveis normais de açúcar no sangue vão de 80 mg/dl a 100 mg/dl. O diagnóstico de diabetes é positivo para níveis acima de 125 mg/dl.
"Esses resultados são muito melhores do que esperávamos. Com certeza vamos repeti-los em humanos", afirma Jocelen Salgado, coordenadora das pesquisas.
Além de baixar o nível de glicose no sangue, o guandu também equilibrou as taxas de colesterol e triglicerídeos (gorduras), de creatinina e de uréia (indicadores do funcionamento do metabolismo das proteínas).
Tudo isso sem efeitos colaterais, a não ser que sejam ingeridos em excesso, dizem os pesquisadores.
Um protocolo para pesquisas com o guandu em humanos, que devem começar em cerca de um mês, já foi firmado. Dentro de seis meses devem surgir os primeiros resultados.
Colesterol
O experimento que mostrou bons resultados na redução da taxa de colesterol foi feito com a pectina, uma substância retirada das cascas da laranja e da maçã.
A pectina está sendo testada em pacientes com taxas muito elevadas de colesterol no sangue, difíceis de ser tratadas com remédios. Quem tem altas taxas de colesterol é mais propenso a problemas cardíacos.
Segundo Jocelen, a pectina aumenta a produção de lipoproteínas que tiram o colesterol do sangue, eliminando-o pelo intestino. Com isso, o colesterol baixa.
Embora os resultados sejam animadores, os pesquisadores ainda não sabem explicar como o guandu e a pectina diminuem as taxas de glicemia e de colesterol.
Esse é o tema dos próximos estudos do grupo, que desenvolve duas linhas de pesquisa -efeitos terapêuticos dos alimentos e fontes alternativas de alimentação. Todos os estudos constam de trabalhos de mestrado, doutorado ou pós-doutorado.
Na linha de alimentação terapêutica, os principais produtos são os concentrados nutricionais que fazem engordar ou emagrecer, além de outras substâncias cujos estudos ainda estão em fase inicial.

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