São Paulo, domingo, 7 de setembro de 1997
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Previdência privada triplica no Real

GABRIEL J. DE CARVALHO

GABRIEL J. DE CARVALHO; VANESSA ADACHI
DA REDAÇÃO

Receita semestral dos planos que complementam aposentadorias salta de R$ 263 mi para R$ 907 mi

VANESSA ADACHI
A estabilidade e o limite relativamente baixo das novas aposentadorias no INSS, pouco mais de R$ 1.000, fizeram o setor de previdência privada deslanchar nos últimos anos. Desde o Plano Real, a venda de planos cresceu 245%.
Dados da Associação Nacional da Previdência Privada (Anapp) indicam que no primeiro semestre de 94, véspera, portanto, da estréia da nova moeda, a receita das empresas que comercializam os planos de aposentadoria complementar foi de R$ 263 milhões.
Nos primeiros seis meses de 97 a receita já era de R$ 907 milhões, segundo os últimos números fechados pela associação.
Uma prévia da Superintendência de Seguros Privados (Susep) obtida pela Folha mostra desempenho semelhante: R$ 927 milhões.
As receitas da Prever (Unibanco e HSBC Bamerindus), por exemplo, a segunda do setor, cresceram 76,5%, de R$ 89,2 milhões no primeiro semestre de 96 para R$ 157,4 milhões no mesmo período de 97.
A Brasilprev, do BB, empresa com pouco mais de dois anos, deve receber entre R$ 220 milhões e R$ 250 milhões em 97, estima seu presidente, Fuad Noman.
Perspectivas
Alguns especialistas comparam o fenômeno atual da previdência privada ao da saúde, ocorrido na década de 70. Com o sistema público quebrado, multiplicaram-se os planos de saúde. Hoje, cerca de 35 milhões de pessoas são assistidas pelo sistema particular.
O setor de aposentadoria complementar tem crescido entre 40% e 60% ao ano, afirma o presidente da Anapp, Luiz Carlos Trabuco Cappi, estimando que em 97 a expansão será superior a 50%.
"Esse mercado tem crescimento garantido nesses patamares para 98 e 99", observa Trabuco.
Independentemente de seu resultado, argumenta ele, o debate sobre a reforma da Previdência está criando uma consciência da necessidade de se complementar a aposentadoria.
"Todos os parlamentos do mundo estão votando reformas previdenciárias. E as saídas adotadas têm sido duas: postergar a idade de aposentadoria ou reduzir o benefício", afirma Cappi.
Incentivos
O Plano Real deu um empurrão no setor porque o ambiente de moeda estável e baixa inflação permite planejar a longo prazo.
Outro estímulo é mais recente. Veio em 96, quando as contribuições passaram a ser deduzidas do Imposto de Renda. A intenção do governo com isso foi alavancar a poupança interna do país.
Em junho deste ano, segundo a Anapp, essa poupança atingia R$ 5,4 bilhões, com crescimento de 126% desde o início do Real.
Está longe dos fundos de pensão fechados, cujos ativos chegam a R$ 70 bilhões, e bem longe de países como a Inglaterra, onde a previdência complementar representa 60% do PIB.
Mas o potencial de expansão do setor no Brasil tem atraído cada vez mais empresas. Em 96, a norte-americana ITT Hartford associou-se à Icatu Seguros.
Somente no ano passado, seis novas empresas se filiaram à Anapp, totalizando 46.
Custos
Sobre queixas de que no Brasil as taxas de administração dos planos (ver ao lado) são ainda muito elevadas, Argemiro Iurovski, diretor executivo da Prever, diz que tudo é uma questão de escala.
A Fidelity, nos EUA, tem 14 milhões de clientes e gira US$ 700 bilhões, exemplifica Iurovski, prevendo que no futuro as taxas tendam a cair no Brasil.
E mesmo a Fidelity, cutuca o diretor da Prever, tem taxas de 5%.
Na França as taxas são baixíssimas, mas cobram-se tarifas por tudo, até para assinar o contrato, reforça Flavio Perondi, diretor da AGF Brasil Seguros.

LEIA MAIS sobre previdência privada na págs. 2-10 e 2-11

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