São Paulo, domingo, 7 de setembro de 1997
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Operação no limite eleva risco de blecaute

MAURO ARBEX
DA REPORTAGEM LOCAL

A falta de energia elétrica no horário de maior consumo (entre 18h e 20h), que provocou blecautes no Sul e no Sudeste do país em abril, deverá continuar no próximo ano.
O aumento da oferta de energia até junho de 98, conforme cronograma de obras da Eletrobrás, será inferior a 1.000 MW (megawatts), insuficiente para acompanhar o crescimento da demanda naquelas regiões, estimado em 3.000 MW a cada ano, caso se mantenha o atual ritmo de consumo, que cresce 5% a 6% ao ano.
"A situação em 98 ainda tende a ficar complicada", reconhece Mauro Arce, diretor de geração e transmissão da Cesp (Companhia Energética de São Paulo).
Os baixos investimentos no setor elétrico nos últimos anos -com o esgotamento da capacidade do Estado de injetar recursos- e a participação ainda reduzida da iniciativa privada na geração de eletricidade estão fazendo o sistema operar num limite perigoso, segundo Arce."Perdemos uma década com a falta de investimentos", diz.
Segundo Luiz Gonzaga Bertelli, diretor do Departamento de Infra-Estrutura Industrial da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), o país precisaria investir no setor elétrico de US$ 6 bilhões a US$ 7 bilhões anuais nos próximos dez anos para recuperar o terreno perdido.
Atualmente, os investimentos não passam de US$ 2 bilhões por ano, diz Bertelli.
Para o diretor da Cesp, os problemas de abril não devem se repetir neste ano, já que os reservatórios das usinas estão em nível satisfatório (76%, contra 60% no mesmo período do ano passado), por causa do bom volume de chuvas no começo do ano.
Em outubro, começa o horário de verão, quando a economia de consumo é estimada pela Cesp em 5% no horário da ponta (entre 18h e 20h), o equivalente a 2.000 MW.
Mas de março a setembro de 98, meses em que a demanda é mais forte e chove menos, o quadro deste ano pode se repetir. "Ontem (2/9), tínhamos disponível no Sul e no Sudeste, incluindo as usinas térmicas e a nuclear (Angra I), 42.185 MW", afirma Arce. Nesse total, está incluída uma reserva de 2.030 MW.
"Se a demanda voltar a atingir os 40.416 MW (recorde registrado em 18 de agosto), teremos de usar parte da reserva", diz Arce.
Numa situação como essa, o sistema fica vulnerável a qualquer imprevisto -como perda de um grande gerador de uma usina ou de uma linha de transmissão-, com risco de novos blecautes.
O programa de geração da Eletrobrás prevê a inauguração de cinco máquinas em três usinas até junho de 98, totalizando 940 MW (ver mapa na página ao lado).
Mesmo que o cronograma seja cumprido, o acréscimo é muito pequeno, já que a demanda deve crescer pelo menos o dobro no próximo ano.

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