São Paulo, domingo, 7 de setembro de 1997
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Empresário quer regra para setor privado

MAURO ARBEX
DA REPORTAGEM LOCAL

Os empresários estão se mobilizando para evitar problemas na produção industrial devido à falta de energia elétrica.
As empresas querem mais velocidade do governo na definição das normas para a geração de energia pelo setor privado, para permitir o aumento dos investimentos.
O Departamento de Infra-Estrutura Industrial da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), por exemplo, reuniu-se na última semana para discutir a questão.
"Estamos preocupados. Estão sendo batidos sucessivos recordes de demanda de energia", afirma Luiz Gonzaga Bertelli, diretor do departamento.
Segundo ele, além de a população estar usando mais aparelhos eletrodomésticos, as indústrias automobilística e metalúrgica -que consomem muita energia- estão aquecidas, puxando a demanda.
"O sistema elétrico envelheceu, a manutenção é precária, tanto das linhas de transmissão como dos transformadores e das subestações elétricas, e, com isso, os riscos aumentam", afirma.
Para Paulo Ludmer, diretor-executivo da Abrace (associação que reúne os grandes consumidores industriais de energia), "estamos numa 'sinuca de bico', entre a falta de energia e a alta das tarifas".
Segundo ele, as grandes indústrias consumidoras de eletricidade ligadas à Abrace -responsáveis por uma conta mensal de energia de cerca de US$ 250 milhões- pagam hoje, em média, US$ 40 por megawatt-hora (MWh), o dobro em relação às argentinas.
Conforme Ludmer, a demora na definição das regras para a participação privada no setor está emperrando os investimentos. "Quem vai investir em geração sem saber quanto vai pagar pela transmissão da energia", afirma.
A construção de hidrelétricas e usinas térmicas exige, diz Ludmer, milhões de dólares de investimentos, que não são liberados por bancos ou agentes financeiros antes de se conhecer as normas do setor.
"Faltam a metodologia de cálculo, os custos da transmissão e a definição do mercado 'spot', para que os geradores saibam, por exemplo, onde vão colocar as sobras de energia."
Segundo Alexandre D'Avignon, assessor técnico da CNI (Confederação Nacional da Indústria) -que preparou um estudo detalhado sobre a reformulação do setor elétrico brasileiro-, "o governo está numa situação cômoda quando passa a admitir que há escassez de energia elétrica".
Para ele, a intenção é justificar a necessidade de aumentos de preços da eletricidade e estimular o processo de privatização, que deve render aos cofres públicos cerca de US$ 30 bilhões. "A Light (privatizada no ano passado) aplicou recentemente dois reajustes em curto espaço de tempo", diz.
(MA)

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