São Paulo, domingo, 7 de setembro de 1997
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Tensão no ambiente de trabalho agrava a LER

ROSEANE SANTOS
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Apesar do mal planejamento de espaço e dos vícios de postura contribuírem, a tensão do ambiente de trabalho pode ser apontada como o fator principal para o desenvolvimento da LER (lesão por esforço repetitivo).
A tese, defendida pela médica Gabrielle Bammer, da Universidade Nacional da Austrália, também é endossada pelo fisioterapeuta Carlos Alberto Carneiro Souza, da Secretaria Estadual de Saúde do Rio de Janeiro.
Não há números oficiais sobre a LER no Estado, mas, segundo ele, estimativa da Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro aponta que cerca de 120 mil trabalhadores são portadores da doença.
A falta de estatística esbarra em outros problemas. A especialista em ergonomia Venétia Santos diz que muitas empresas omitem que seus funcionários apresentam LER, dificultando não só o tratamento, mas a prevenção.
Além disso, a maioria dos trabalhadores brasileiros não conhece os sintomas da doença (veja quadro acima). Quando diagnosticada no estágio inicial, a lesão é de fácil reabilitação, mas, com o passar do tempo, ela pode se tornar irreversível.
Membro do Conselho de Saúde do Trabalhador, Souza diz que o medo do desemprego faz com que muitas pessoas não admitam os sintomas, sem saber que, caso ela seja diagnosticada, eles terão os direitos garantidos pelo Ministério do Trabalho.
Esses direitos, segundo ele, constituem em uma licença de até um ano para tratamento médico e o recebimento de pecúlio, a ser calculado de acordo com o salário e a gravidade do caso.
"Se os trabalhadores não entrarem com recurso no INSS, a fim de que a LER seja diagnosticada, eles poderão realmente ficar desempregados por falta de condições físicas e sem saber que essa doença é enquadrada nos acidentes de trabalho", explica.
Para garantir esses direitos, o trabalhador que estiver com os sintomas deve passar pela perícia do INSS, que dará o diagnóstico oficial para fins trabalhistas.
A coordenadora de saúde ocupacional do Instituto Geral de Assistência Social Evangélica, Ana Lídia Rodrigues, acompanha diariamente casos de LER.
Ela diz que, antes de direcionar a causa para o ambiente de trabalho, deve-se considerar o histórico do paciente. "Pode-se adquirir a lesão até fazendo tricô."
Recentemente, um congresso sobre a doença concluiu que o acúmulo de horas extras, a exigência de maior produtividade e a ameaça do desemprego contribuem no agravamento da LER.
"Fisioterapeutas e cirurgiões dizem que a recuperação de profissionais liberais é mais rápida do que a de assalariados", afirma Venétia Santos, que fez estudos sobre ambientes de trabalho.

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