São Paulo, domingo, 7 de setembro de 1997
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Dirigente pode lucrar R$ 2 mi com o Flu

MÁRIO MAGALHÃES
DA SUCURSAL DO RIO

A cobrança de uma dívida do Fluminense está prestes a chegar à Justiça, revelando como um dirigente de futebol pode conseguir um lucro pessoal de mais de R$ 2 milhões, no período de um ano e oito meses, emprestando dinheiro à agremiação que ele ajudava a comandar.
Alcides Pereira Antunes Neto, ex-vice-presidente do Fluminense Football Club, exige o pagamento de R$ 2.551.896,80.
O valor resulta de uma rentabilidade que ele não obteria em nenhuma aplicação do mercado (caderneta de poupança, fundos de renda fixa e variável, ouro, dólar e outros).
Até novembro de 1995, Antunes emprestara ao clube, segundo documento assinado pelo então presidente do Fluminense, Arnaldo Santhiago, R$ 314.376,83.
Em dezembro daquele ano, o valor total do empréstimo chegara a R$ 396.219,43.
Depois, Alcides Antunes, como é conhecido, não emprestou mais nada ao clube.
Antunes já recebeu, em parcelas com valores atualizados por ele mesmo, R$ 113.629,77.
Somando o que ainda quer, o total chega a R$ 2.665.526,50.
Há um aumento de 573% sobre a dívida declarada em dezembro de 95.
Se tivesse aplicado seus R$ 396 mil no mercado paralelo do dólar, Antunes teria valorizado em 14% seu dinheiro, até este mês. Em caderneta de poupança, 28%.
A opção pelo dólar teria transformado o valor de dezembro de 95 em R$ 452 mil. Pela poupança, em R$ 505 mil.
Em ambos os casos, a diferença para o que Antunes pretende supera R$ 2 milhões.
Multa mensal
A Folha obteve o documento, registrado no cartório do 2º Ofício de Registro de Títulos e Documentos do Rio, em que Antunes cobra a dívida.
A carta ao atual presidente do clube, Álvaro Barcellos, é reconhecida por ambas as partes.
A Folha também obteve cópia do contrato de confissão de dívida assinado em 12 de dezembro de 95.
Nem o Fluminense nem Alcides Antunes questionam a autenticidade do documento.
Ele estipula multa mensal de 10% para o atraso no pagamento, que poderia ser feito em cinco parcelas. Além disso, o saldo a pagar seria reajustado pela variação da taxa do dólar oficial.
A advogada de Alcides Antunes, Sonia Maria Mizrahy, afirmou à Folha que é iminente o ingresso de seu cliente na Justiça, para receber o que julga lhe ser devido.
Álvaro Barcellos disse que o clube não reconhece a dívida, pelo menos até a conclusão de uma auditoria, em curso.
"Mas posso dizer que a chance de pagarmos os R$ 2,6 milhões pedidos é nenhuma", declarou Barcellos. "Se essa dívida existe mesmo, o máximo a pagar seriam 6% de juros anuais, como a caderneta de poupança."
Dirigentes do Fluminense disseram haver indícios, na auditoria, de que Antunes não teria emprestado dinheiro ao clube.
Mas, pelo menos até junho passado, continuavam pagando parcelas de até R$ 15 mil mensais ao ex-diretor.
O ex-vice-presidente afirma que bancou salários de jogadores, passagens para viagens, alimentação e outras despesas da equipe.
Uma demonstração de sua boa vontade, segundo a advogada, foi abrir mão da variação do dólar oficial (12% até hoje) prevista na confissão de dívida.
"A multa de 10% ao mês foi decisão do Fluminense. Meu cliente adora o clube", afirmou Sonia Maria Mizrahy.

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