São Paulo, domingo, 7 de setembro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Financiamento mais acessível

FÁBIO DE ARAUJO NOGUEIRA

Houve um tempo -nos idos de 83/84- em que você poderia ganhar um automóvel se comprasse um imóvel financiado. Esse período foi substituído por uma situação completamente inversa: a partir de 85, com o "fechamento" do SFH (Sistema Financeiro da Habitação), os financiamentos imobiliários passam a ser destinados somente aos amigos dos gerentes.
Passamos a viver uma situação que contrariava a própria natureza da atividade bancária: não se emprestava para pessoa física, pois isso gerava muito custo operacional e era um problema em potencial.
Contribuiu para isso o protecionismo exagerado representado pela equivalência salarial.
Isso ocorreu anteriormente com a locação de imóveis: quando voltou a temida denúncia vazia, o fenômeno que se seguiu foi o de aumento de oferta e redução de aluguéis. Essas proteções exageradas somente servem de escudo para alguns poucos que delas se aproveitam. A maioria da população acaba sendo prejudicada pelos efeitos nocivos das mesmas.
A partir de 88, quando se tomou consciência dos danos causados à sociedade pelo enorme rombo do SFH, passamos a observar um amadurecimento no trato da questão. Os responsáveis pelo assunto, tanto o Banco Central quanto o Congresso, entenderam que medidas aparentemente populistas eram extremamente danosas, até mesmo porque os grandes beneficiados pelo SFH não foram as classes menos favorecidas e, sim, 4 milhões de felizardos, pertencentes às classes que poderiam recorrer às soluções de mercado. Isso é inquestionável. Gradualmente, passamos a ter estabilidade nas regras do mercado e o prenúncio de um novo quadro para o setor.
Após o Plano Real, surgiram as condições para o alongamento dos prazos dos financiamentos: essa era a senha para a retomada em grande escala da oferta de financiamentos imobiliários. O Banco de Boston foi pioneiro nesse segmento, tratando o cliente desse produto como um cliente muito especial, oferecendo assistência na obtenção da documentação necessária e, sobretudo, disponibilizando uma ampla gama de produtos imobiliários inexistentes até então no país.
Isso é só o começo. Estamos vendo no horizonte a chegada do SFI (Sistema Financeiro Imobiliário), que permitirá a securitização das carteiras imobiliárias, ou seja, possibilitará uma oferta constante de financiamento. Em menos de dez anos, o famoso déficit habitacional, estimado em mais de 5 milhões de moradias, deverá estar praticamente eliminado. Todo o sistema se preocupará em oferecer o melhor serviço e as melhores condições para conquistar sua excelência: o comprador de imóvel.
Para um país como o nosso, que ficou mais de dez anos sem oferta regular desse tipo de linha de crédito, é um grande avanço. Adquirir a casa própria praticamente à vista era um fenômeno que só ocorria no Brasil e que, felizmente, está próximo da extinção. Sobrará dinheiro para as famílias desfrutarem não só a casa própria, como também os benefícios da vida moderna, como ocorre em todas as demais sociedades.

Texto Anterior: Consórcio tem novas regras
Próximo Texto: CARTA
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.