São Paulo, domingo, 7 de setembro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

QUEM FOI BATAILLE

Georges Bataille (1897-1962), pensador e escritor francês, exerceu seu ofício em praticamente todas os campos da literatura e do conhecimento. É autor de poemas, novelas e romances, além de uma série de livros de ensaios, que tratam desde filosofia, economia e antropologia até religião.
A sua formação e o seu trabalho refletem essa ansiedade em apreender o mundo sob várias formas.
Filho de "pai descrente, mãe indiferente" (como escreveu), converteu-se aos 15 anos ao catolicismo, pensando em se ordenar padre, o que não chegou a concretizar.
Logo descobriria a psicanálise, a antropologia de Marcel Mauss, o marxismo e estabeleceria vínculos com o grupo surrealista, no início dos anos 20.
Em 1929-30, polemizou com o pai do surrealismo francês, André Breton, atacando-o violentamente pela imprensa. Chegou a chamá-lo de "leão castrado". Anos mais tarde, reatariam.
Seu primeiro livro, "História do Olho", uma novela fortemente erótica, na linhagem de Sade, foi publicada em 1928 sob o pseudônimo de Lord Auch. Sob o pseudônimo de Pierre Angélique, publicou "Madame Edwarda" (1937).
Grande leitor de filosofia, dedicou um ensaio a Nietzsche ("Sur Nietzsche"), filósofo cuja obra foi central em sua formação. Assistiu em 1934 aos célebres cursos de Alexandre Kojève sobre Hegel. "A Fenomenologia do Espírito" o influenciará de maneira decisiva.
Interessou-se também pelas religiões orientais, as experiências místicas e as práticas extáticas e sacrificiais.
A vastidão da obra de Bataille gira sempre em torno de um eixo comum: a relação entre erotismo e morte, e o modo de transgredir as interdições impostas milenarmente àqueles dois elementos desordenadores.
Bataille dá ao erotismo e à violência uma dimensão religiosa, fazendo deles meios para se atingir uma experiência mística "sem Deus".
Para o autor de "A Literatura e o Mal", toda "literatura autêntica é prometéica", referindo-se à figura da mitologia grega que se sacrificou (isto é, "transgrediu") para roubar aos deuses a "chama" do conhecimento.
No limite, Bataille queria criar uma religião própria: "Estou decidido, se não a fundar uma religião, ao menos a me conduzir nesse sentido". Ele recusava, dessa forma, qualquer preconceito moral, religioso ou místico. Pois "um homem que ignora o erotismo é tão estranho quanto um homem sem experiência interior" ("História do Olho").
Bataille trabalhou como bibliotecário na Biblioteca Nacional de Paris durante décadas e teve ainda intensa atividade como editor, fundando várias revistas literárias, como a "Documents" e a "Acéphale". A mais importante e influente delas foi a "Critique", que criou em 1946 e dirigiu até sua morte.
Suas idéias, formuladas numa época de grande efervescência intelectual na França, contemporâneas das de Merleau-Ponty, Sartre e Camus, não chegaram a exercer influência direta. Permanecem, no entanto, uma fonte inesgotável de reflexão e provocação.

Texto Anterior: A economia da consumação
Próximo Texto: O QUE LER
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.