São Paulo, domingo, 7 de setembro de 1997
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"Vacina" contra o diabetes

MARTA AVANCINI
DE PARIS

A invenção de uma espécie de vacina contra o diabetes pode ocorrer antes do que se imagina. Até o final do ano, devem começar na França os testes em humanos de dois produtos que podem dar origem ao medicamento.
Se os testes derem certo, pelo menos um dos medicamentos poderá estar no mercado em cinco anos, à disposição de pessoas que podem se tornar portadores do diabetes tipo 1, ou seja, que dependem de insulina (leia texto abaixo).
Um dos medicamentos está sendo desenvolvido nos EUA pela equipe do médico Noel MacLaren, diretor do Centro de Pesquisas do Hospital Infantil de Nova Orleans, com base em uma proteína que compõe a insulina.
O produto francês resulta de uma pesquisa realizada durante dez anos no Centro de Diabetologia do Hospital Necker, em Paris, pela equipe do médico Jean-François Bach. Ele é produzido a partir de anticorpos de animais modificados geneticamente.
Embora utilizem duas substâncias diferentes, os medicamentos se baseiam em um mesmo princípio: o bloqueio da reação do próprio organismo que resulta na destruição da células-beta do pâncreas. Essas células são responsáveis pela produção de insulina.
A OMS (Organização Mundial da Saúde) estima que o diabetes é a terceira doença que mais mata no mundo, atrás das doenças cardiovasculares e dos vários tipos de câncer. Há cerca de 135 milhões de diabéticos em todo o mundo. Desses, 20 milhões são do tipo 1.
Barreira
A idéia dos pesquisadores é criar uma defesa no organismo para evitar que as células-beta do pâncreas sejam destruídas.
"Não se sabe ainda por que, mas, em alguns indivíduos com propensão genética, o sistema imunológico recebe uma mensagem para atacar as células-beta como se elas fossem inimigas", afirmou Noel MacLaren à Folha.
O remédio cria uma linha de defesa secundária, que se contrapõe à original do organismo e impede o ataque contra as células-beta. Dessa maneira, a produção de insulina é garantida, e o doente não desenvolve o diabetes.
"Isso é possível porque se descobriu que o diabetes é uma doença do sistema imunológico e não do pâncreas" , afirmou Bach.
Essa descoberta ocorreu nos anos 70, abrindo a possibilidade para o desenvolvimento de uma série de pesquisas como as coordenadas pelos dois médicos.
Prevenção
Evitar que um doente em potencial desenvolva o diabetes é o principal objetivo da pesquisa.
"Se tivermos a vacina, vamos poder agir de maneira preventiva, impedindo que a doença se manifeste" , disse MacLaren.
Embora o medicamento tenha por objetivo atender uma minoria de diabéticos, ele atinge os doentes mais prejudicados, os do tipo 1.
"O tratamento existe, mas é muito sofrido. Além disso, esse tipo de diabetes é o que costuma ser desenvolvido por crianças. No caso dos portadores do tipo 2, a doença é controlada se houver um acompanhamento médico adequado", afirmou o doutor Bach.
Os dois medicamentos tiveram, segundo os médicos, eficácia de quase 100% em testes com cobaias, isto é, quase todos os animais testados foram curados do diabetes após a aplicação dos medicamentos. Agora, MacLaren e Bach precisam verificar a eficácia das substâncias no homem.
Em um primeiro momento, os medicamentos serão aplicados nos chamados doentes recentes, ou seja, em que o diabetes acaba de ser diagnosticado. Serão priorizados os diabéticos entre 15 e 30 anos. "Uma vez feito o diagnóstico, é preciso agir rápido. Caso contrário as células-beta são destruídas", disse MacLaren.

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