São Paulo, domingo, 7 de setembro de 1997
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Autobiografia mistura doses de ciência e mística

JOSÉ REIS
ESPECIAL PARA A FOLHA

Em sua série Memória, a Editora da Universidade Federal do Paraná publicou em 1995 a autobiografia do professor emérito Newton Freire-Maia, obra-prima em seu gênero. Chamada "O Que Passou e Permanece", a obra não é história corrida, mas constituída por fragmentos, como notas que o autor colecionou durante o tempo. Ela é dividida em capítulos, que nada têm de cronológicos, cada um deles por sua vez formado de tópicos relativos a circunstâncias diversas.
Excelente idéia de publicar autobiografias dos mestres da universidade, porque os grandes mestres são modelos para os alunos e para os que buscam orientação profissional, e, além disso, estimulam os cientistas e professores a escrever sobre sua formação profissional, ajudando os que buscam êxito em suas carreiras.
Newton Freire-Maia começa sua biografia pelos tempos da infância, quando odiava a escola e preferia cabular as aulas e, para decepção do avô, ficar em casa escrevendo romances, que, às vezes, eram imitação de outros já muito conhecidos.
Afora a "mania" de escrever, o menino tinha paixão pelos fenômenos naturais e uma grande meta -a ciência. A descrição de sua busca da ciência é das partes mais interessantes da obra. Ele tentava tudo para conviver com cientistas e descobrir caminhos para chegar à carreira científica, realizando, para esse fim, muitas andanças.
Nesse entretempo, fazia empreendimentos industriais e improvisava atividades, malogrando sempre, porque o seu grande ideal era outro.
Essas andanças o levaram a São Paulo, onde, após muitas buscas, encontrou o saudoso professor André Dreyfus, que o encaminhou, acabando por absorvê-lo em seu laboratório.
Dreyfus não era propriamente um grande pesquisador, mas um grande formador de discípulos, que se tornavam eminentes pesquisadores de renome internacional. Para citar apenas um, o primeiro de seus assistentes, o professor Crodowaldo Pavan, mestre de muitos cientistas e ainda hoje interessado em todas as atividades que busquem a formação de novos pesquisadores.
A vida científica de Newton confirmou que ele era predestinado para a ciência. Autor de muitos trabalhos originais de pesquisa publicados em revistas de todo o mundo, é também autor e co-autor de numerosos livros publicados no Brasil e no exterior. Tudo isso da melhor qualidade científica.
O núcleo paranaense foi, e continua a ser, um grande êxito, um dos mais produtivos centros de genética do Brasil e de renome internacional.
O livro de Freire-Maia é perfeito no estilo e reclamaria um índice remissivo porque, tratando em pontos diferentes de muitos brasileiros e estrangeiros, permitiria melhor compreensão dessas pessoas como um todo. Isso ficará sem dúvida para futuras edições que a obra merece.
Difícil destacar as partes mais interessantes do volume. Ele é um misto de alegrias e tristezas, como é a vida em geral. Ciência e mística andam de mãos dadas -de ateu o autor se tornou católico ativo.
Com esse livro e os demais que escreveu, inclusive o fundamental "Criação e Evolução", o autor mereceria uma cadeira na Academia Brasileira de Letras, como legítimo expoente, que certamente é, da ciência e da cultura em geral. Uma escolha que, estamos certos, os cientistas aplaudiriam e Deus abençoaria.

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