São Paulo, domingo, 7 de setembro de 1997 |
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Redes aderem ao pop emotivo de Elton John
FERNANDO DE BARROS E SILVA
Os principais canais da TV brasileira oscilaram entre a atitude respeitosa, quase reverencial, e o sentimentalismo mais ou menos contido na cobertura do funeral da princesa Diana. O melhor jornalismo ficou com o SBT. Hermano Henning conduziu a apresentação do estúdio, auxiliado pelo correspondente em Londres, Sílio Boccanera, e pela comentarista Mary Scavone. Claros e seguros, ambos souberam pontuar suas intervenções com análises que escaparam da banalidade. Na Globo, o correspondente William Waack também tentou dar à cobertura um viés mais analítico e menos emotivo, mas foi prejudicado pelo excesso de zelo de Pedro Bial, que iniciou a transmissão do estúdio introspectivo, soturno, quase balbuciante, como se a solenidade da situação tornasse qualquer palavra inconveniente. Bial parecia mais um convidado da cerimônia que um jornalista. Chegou a dizer coisas como: "os tablóides e até mesmo algumas publicações mais confiáveis diziam que as relações entre Diana e a rainha não eram das melhores". As relações eram péssimas e não há "sensacionalismo" nenhum em reconhecer isso sem eufemismos. A Manchete optou pelo óbvio, entregando a um diretor do Conselho Britânico, Martin Dowle, a tarefa dos comentários. O diferencial ficou por conta do "acento britânico", nada além. Mas o canal menos "jornalístico" e mais piegas, sentimental ou populista, como queiram, foi a Bandeirantes. O apresentador Sérgio Rondino fez o seu trabalho, mas foi atropelado por todos os lados. A começar por sua parceira, Cláudia Cappasso, que empilhou clichês do tipo "Diana é um modelo de mulher moderna" ou "é a princesa que morava ao lado". Pior que isso, porém, foi a repetição exaustiva, exasperante da música "Candle in the Wind" (Vela ao Vento), que Elton John adaptou para apresentar durante a missa. A imagem exibia, no canto da tela, um "pot-pourri" das boas ações de Diana em "flashback", enquanto a canção fazia o acompanhamento. Elton John era amigo pessoal de Diana e ninguém deve duvidar de seus bons sentimentos. Mas é uma espécie de Guilherme Arantes britânico. A repetição daquele standard tornou a transmissão da Bandeirantes intragável. A Globo também cedeu ao apelo da canção no final da transmissão. Até a Globo News, um canal de notícias que não precisaria de "emoções baratas", temperou a cobertura com aquele melaço pop. Aposte com um amigo que você ouvirá a canção de novo hoje no "Fantástico". Também nesse aspecto, a TV vai mostrando, embora sem querer, por que a monarquia está com os dias contados. Texto Anterior: Diana é ligada a uma lenda do rei Arthur Próximo Texto: Bandeira a meio pau; Embaixador brasileiro; Cobertura sóbria; Gaiteiro escocês; Motorista bêbado; Samaritanos; Emergências médicas; Lágrimas pop; Cinderela Índice |
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