São Paulo, quarta-feira, 10 de setembro de 1997
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Fazenda mantinha 220 em escravidão

AUGUSTO GAZIR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A fiscalização do Ministério do Trabalho e a Polícia Federal retiraram da fazenda Flor da Mata, em São Félix do Xingu (PA), 220 pessoas que trabalhavam em regime de escravidão.
A operação de retirada dos trabalhadores na cidade (680 km a sudoeste de Belém) começou no dia 28 de agosto e terminou no último fim-de-semana. Foram apreendidas na fazenda 15 armas de fogo (três de uso exclusivo da PF), 30 motosserras, pólvora e munição.
O ministério não informava, até ontem à noite, quem era o dono da fazenda de agropecuária. Segundo o órgão, os trabalhadores preparavam o pasto para o gado.
Segundo Ruth Beatriz, secretária de Fiscalização do Ministério do Trabalho, as 220 pessoas trabalhavam por "endividamento", isto é, pegavam mantimentos no armazém da fazenda e pagavam com trabalho.
Os fiscais do ministério encontraram na fazenda os chamados "cadernos de dívida", controle das dívidas dos trabalhadores feito pelos fazendeiros.
"Esse tipo de dívida não tem fim. Você trabalha, trabalha, e a dívida vai crescendo", disse Beatriz.
Ela afirmou que havia na Flor da Mata condições "degradantes" de trabalho, descumprimento "generalizado" da legislação trabalhista e vigilantes armados que tomavam conta das pessoas.
A denúncia de trabalho escravo na fazenda partiu de um trabalhador que conseguiu fugir do local. Mascarado, ele serviu como guia dos fiscais e policiais.
O Ministério do Trabalho obteve informações sobre a retirada dos trabalhadores da fazenda por intermédio de relatos por telefone de fiscais que realizaram a operação.
O relatório sobre a ação, com fotos e filmagens do local, e os autos de infrações trabalhistas (como a ausência de carteiras assinadas e grandes jornadas de trabalho) serão encaminhados ao Ministério Público do Trabalho e à Procuradoria Geral da República. Cabem a esses órgãos decidir sobre a abertura de inquérito.
O proprietário da fazenda teve que pagar os encargos trabalhistas atrasados durante a operação do Ministério do Trabalho e da PF. "Essa foi uma das causas da demora da ação", disse Beatriz.
Segundo o ministério, houve um trabalhador que já estava na Flor da Mata há dois anos e acabou recebendo R$ 5.000.
Beatriz afirmou que as áreas prioritárias de atuação dos fiscais do Ministério do Trabalho são o sul do Pará e o norte do Mato Grosso.

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