São Paulo, quarta-feira, 10 de setembro de 1997
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PT e PDT tentam adiar o lançamento de Ciro Gomes

LUÍS COSTA PINTO
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA

O anúncio da filiação ao PSB do ex-ministro da Fazenda Ciro Gomes e do lançamento de sua candidatura a presidente da República, marcado para amanhã no Recife, provocou uma intensa troca de telefonemas entre as direções nacionais dos partidos de oposição ao governo.
O PT quer que os socialistas respeitem as negociações que já vêm sendo empreendidas pelo bloco das oposições no Congresso (PT-PDT-PSB-PC do B) e evitem lançar nomes à sucessão do presidente Fernando Henrique Cardoso antes que se defina um programa de governo alternativo ao atual. O PDT deseja acertar com seus demais aliados os palanques das sucessões estaduais, principalmente no Rio de Janeiro e no Rio Grande do Sul.
José Dirceu, presidente nacional do Partido dos Trabalhadores, e Lula, eventual candidato à Presidência, pediram ao governador de Pernambuco, Miguel Arraes, presidente nacional do PSB, para adiar o lançamento da candidatura de Ciro até que todos se reúnam em Brasília na próxima semana.
Arraes concordou e pediu que fosse marcado um encontro dele com Lula, José Dirceu, João Amazonas (PC do B) e Leonel Brizola (PDT) entre os dias 16 e 18 de setembro.
"Eu disse ao Ciro que a filiação dele ao PSB era bem-vinda, era excelente para o projeto de país que queremos construir, mas deixei claro que isso não significa uma candidatura automática. Disse a ele que existe um fórum de discussões dentro do bloco das oposições", afirmou Arraes a Lula e a José Dirceu.
Os dois, acreditando na versão do governador de Pernambuco, telefonaram imediatamente para Brizola e para João Amazonas a fim de marcar a reunião da próxima semana em Brasília.
"Ótimo. Precisamos de um programa comum, mas também precisamos acertar as alianças estaduais", mandou-lhes dizer Brizola, por intermédio de um parlamentar do PDT carioca.
Os dois petistas, Lula e José Dirceu, estavam irritados quando telefonaram para Miguel Arraes. "É uma injustiça o Ciro Gomes sair por aí acusando o PT de inviabilizar qualquer frente política. Arraes, você precisa dizer a ele que não existe frente política de oposição no país sem o PT", desabafou José Dirceu.
Lula também foi claro. Disse que nunca se lançou candidato a presidente da República em 1998 para respeitar os acordos que têm sido feitos pelos partidos de oposição e afirmou que não se oporá a uma eventual candidatura de Ciro Gomes, se este for o desejo do bloco oposicionista.
Pediu ainda uma discussão profunda do programa de governo antes da divulgação de possíveis candidatos. "É isso que vão nos cobrar nos palanques", previu.
Agenda carregada
Sob os protestos dos petistas e depois de receber um recado de Leonel Brizola, pedindo uma conversa com ele, Miguel Arraes decidiu pedir ao deputado Fernando Lyra (PSB-PE) que tentasse adiar a conversa definitiva com Ciro.
Lyra está encarregado por Arraes de negociar com todos os políticos que entraram ou desejam entrar no PSB (além de Ciro, Luiza Erundina, Darci Accorsi, Almino Affonso, Lídice da Matta, entre outros). O adiamento foi quase natural em função do excesso de compromissos da agenda do ex-ministro da Fazenda.
Anteontem ele estava em Caxias do Sul (RS), ontem e hoje está em São Paulo e amanhã já confirmou presença num debate em Fortaleza durante um congresso do Conselho Nacional de Economia.
"Ciro não teve tempo de ir ao Ceará e ouvir seus principais amigos e assessores depois da conversa de domingo com Arraes. Também não voltou a debater sua saída do PSDB com o governador Tasso Jereissati, de quem é amigo. É natural que ele precise de tempo para anunciar sua decisão. Assim, ficou para a próxima semana", diz Fernando Lyra.

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