São Paulo, quarta-feira, 10 de setembro de 1997
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Grupo pró-aborto quer pressionar papa

SILVANA DE FREITAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Um grupo de mulheres católicas, ligadas ao movimento feminista brasileiro, aproveitará a visita do papa João Paulo 2º ao país, em outubro, para pressionar a Igreja Católica a aceitar a opção pelo aborto como um direito da mulher.
Elas estão tentando marcar audiência com o papa para entregar uma carta em defesa desse direito. O documento é subscrito por 35 entidades e 37 mulheres -que a assinam individualmente ou em nome de outros grupos.
A iniciativa é da organização não-governamental "Católicas pelo Direito de Decidir", com sede em São Paulo.
A carta já está sendo distribuída a representantes da igreja no Brasil, na tentativa de forçar o debate interno sobre o tema.
A entidade teme que a visita do papa se transforme "em um ato político" contra a aprovação do projeto de lei que autoriza a realização de aborto, pela rede pública hospitalar, nos dois casos previstos no Código Penal: quando a gravidez resultar de estupro ou implicar risco à vida da mulher.
Sem citar a palavra "aborto", elas defendem o direito ao planejamento familiar e "à autonomia no campo da sexualidade". Também cobram da Igreja Católica que abandone internamente "procedimentos inquisitoriais".
"Queremos ver reconhecidos, pela igreja, nossos direitos à decisão sobre nossos corpos e à autonomia no campo da sexualidade. Isso implica a aceitação do exercício sadio e seguro do sexo, respeitando-se a diversidade de escolhas e o recurso aos meios disponíveis para a realização do sexo responsável e prazeroso."
Conservadorismo
Uma das coordenadoras da entidade "Católicas pelo Direito de Decidir", a socióloga Maria José Rosado, 52, de São Paulo, criticou ontem o papa João Paulo 2º.
"Infelizmente, tenho que reconhecer que ele é um dos papas mais conservadores. Ele poderia afinar o discurso da igreja a essa linha (de defesa da dignidade da pessoa humana) sem recuar nos princípios éticos, mas faz o contrário."
Maria José Rosado disse que a questão do aborto não é consensual na igreja.
Segundo ela, a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) condena a possibilidade de realização do aborto legal na rede pública hospitalar para manter posição idêntica à do Vaticano.
Formalmente, a Igreja Católica só admite os métodos contraceptivos chamados naturais, como a abstinência sexual.
O uso de pílulas anticoncepcionais e de camisinha é considerado pecaminoso.
Segundo Maria José Rosado, "nenhuma mulher aborta levianamente". Essa opção estaria protegida pelo princípio da "escolha do melhor caminho", consagrado por teólogos moralistas da igreja.

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