São Paulo, quarta-feira, 10 de setembro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Este não é o momento de Taffarel

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Houve um momento em que tive a convicção de que Taffarel viria a ser o grande rival de Gilmar dos Santos Neves, na galeria dos nossos goleiros imortais.
Mas isso foi há muito tempo, quando ele fechava o gol do Inter e da seleção brasileira na Copa de 90. Ora, se ainda tão jovem já era um "paredão", como o saudoso crítico Mário Moraes gostava de batizar seletíssimo grupo de arqueiros, que dirá quando passar dos 30, idade fatídica para quem joga com os pés, mas uma bênção para quem pega no gol. É que, com ela, afia-se a visão do jogo, sobrevém o domínio absoluto dos nervos e a imensa meta reduz-se ao tamanho do quarto da infância visto com os olhos de adulto.
Acontece que Taffarel foi para a Itália, e, lá, depois de uma temporada esplendorosa, caiu na reserva, onde chegou até mesmo a treinar no ataque. Para um goleiro, não jogar, nem mesmo treinar embaixo dos três paus é fatal.
E, desde então, embora campeão do mundo, defendendo pênaltis, Taffarel não só deixou de progredir, como jamais voltou a ser o mesmo. Toma gols absurdos, no seu time e na seleção, ainda que se recupere mais adiante com uma ou outra grande defesa. E mais: não há jogo que deixe de fazer uma lambança qualquer -uma saída em falso, um golpe de vista vesgo, uma devolução errada de bola.
Isso, se não o difere da grande maioria dos goleiros de médio porte, pela constância, não justifica seja colocado num nível tão acima dos demais, como o fez Zagallo, em sua coluna de domingo no "JB".
Claro que a experiência de duas Copas do Mundo não é nada desprezível. Mas também não é tudo. Afinal, se futebol é momento, este, seguramente, não é o momento de Taffarel. Nem há sob o sol -muito menos Zagallo- quem possa assegurar que venha a ser o da Copa que já se avizinha.
*
Esta é a noite do reencontro de Rivaldo com a seleção. Mas já vou preparando seu álibi: esmerilhou pelo Barça contra o Valencia segunda-feira à noite, lá; passou o dia de ontem todo viajando, e joga hoje.
Considerar sua performance diante do Equador como decisiva para futuras convocações será, no mínimo, safadeza.
*
Li no jornal que Cuba acaba de exportar para a Inglaterra seu primeiro jogador de futebol profissional. Vai se juntar a um contingente inacreditável de estrangeiros que jogam nos principais centros europeus -Espanha, Itália, Inglaterra e Alemanha. Lá estão africanos de várias tribos, asiáticos, americanos, europeus de todos os matizes e latitudes, hebreus, sumérios e babilônios. Mas nenhum -repito: nenhum- húngaro.
O que acontece com a mais sul-americana das escolas européias de futebol, aquela que nos deu, entre tantos, Zsengeller (vice-artilheiro da Copa de 38, com um gol a menos do que o nosso mítico Leônidas da Silva), Kubala, Puskas, Kocsis, Kopa (romeno, de origem), Tichy, Florian Albert, Bene, Farkas, e que foi por duas vezes vice-campeã do mundo?
Será que, nesses últimos dez anos, pelo menos, não surgiu na terra dos magiares nem mesmo um solitário craque?

Texto Anterior: Cidade aproveita competição para lucrar
Próximo Texto: Náutico inaugura patrocínio rotativo
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.