São Paulo, quarta-feira, 10 de setembro de 1997
Próximo Texto | Índice

Zapatistas iniciam caravana 'pela paz'

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Simpatizantes do Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN) começaram ontem no sul do país uma caravana que deve terminar com uma reunião de até 10 mil pessoas na Cidade do México, a capital do país.
A caravana marca o lançamento da Frente Zapatista de Libertação Nacional, uma tentativa do grupo indígena do sul do país de se firmar como força política e reanimar as negociações com o governo.
O EZLN surgiu publicamente em 1º de janeiro de 1994 e manteve conflitos com tropas oficiais no empobrecido Estado de Chiapas. As negociações estão paralisadas, e o grupo nem sequer mereceu uma menção do presidente Ernesto Zedillo em seu discurso anual sobre o estado da nação, na semana passada. O que o EZLN quer, basicamente, é a melhoria das condições de vida no sul do país, uma área predominantemente habitada por índios.
A caravana que vai à Cidade do México foi batizada de Agrupamento Especial Emiliano Zapata, homenagem ao líder revolucionário mexicano (leia texto abaixo). Os participantes disseram que estão todos desarmados, como forma de convencer o governo a desmilitarizar a região. Apesar disso, 20 mil policiais vão vigiar o trajeto, segundo a imprensa mexicana.
O grupo quer agregar mais simpatizantes pelo caminho -daí a expectativa de que até 10 mil devam se reunir na capital.
O começo da caravana foi precedido por uma cerimônia militar na noite de anteontem na praça da catedral de San Cristóbal de las Casas, a capital de Chiapas. Cerca de 15 mil índios e mestiços, com os rostos cobertos com máscaras, vieram de suas aldeias para ver alguns dos líderes da guerrilha zapatista entregarem um bastão de comando a um responsável pelos 1.111 índios que partiram da cidade -cada um representando uma comunidade ligada aos zapatistas.
Ele foi identificado como Isaac. "Com este bastão, exijam ao governo o cumprimento dos pedidos dos povos indígenas e não-indígenas e o cumprimento dos acordos de San Andrés Larráinzar. Não permitam que nenhum inimigo o tome", disseram os comandantes a Isaac. Os acordos aos quais eles se referiam foram assinados pelo governo e pelo EZLN em fevereiro de 1996, para reconhecer o valor da cultura e das tradições indígenas na vida mexicana.
O governo disse ontem que está disposto a retomar as negociações com o EZLN, mas não rediscutir os termos do acordo de San Andrés. As zapatistas saíram das negociações de implementação em setembro de 1996, argumentando que o governo se negava a reformar a Constituição.
O ministro do Interior, Emilio Chuayffet, disse que a criação do braço político do EZLN será "saudável para a República". Ontem, os 36 ônibus da caravana chegaram a Juchitán, Estado de Oaxaca, após cerca de 16 horas de viagem. Cerca de 1.500 km separam San Cristóbal de las Casas da capital.

Próximo Texto: Líder do grupo quer 'internacionalizar' ações
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.