São Paulo, quarta-feira, 10 de setembro de 1997
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Líder do grupo quer 'internacionalizar' ações

NEWTON CARLOS
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

O subcomandante Marcos, a face "branca", não-indígena, da liderança zapatista, não faz por menos. A humanidade já está mergulhada numa "Quarta Guerra Mundial". Ensaio a respeito teve boa difusão na Europa, onde ele é visto com grau razoável de seriedade, inclusive por intelectuais do porte de Alain Touraine, além de Danielle Mitterrand, que aceitaram meter-se nas selvas de Chiapas, local de uma conferência contra o neoliberalismo. Neste mês delegação da EZLN visita a Europa, como parte da estratégia de Marcos de "internacionalizar" seus gritos de resistência.
A Quarta Guerra parte, segundo Marcos, da "agressão neoliberal em escala planetária". A Terceira Guerra foi a Guerra Fria, "denominação imprópria, porque a temperatura andou alta com armas no espaço, baía dos Porcos, Vietnã, corrida a engenhos de destruição maciça, golpes na América Latina, etc". Foi uma guerra "entre capitalismo e comunismo em terrenos diversos e intensidade variada" e que terminou "com a liquidação do campo socialista como sistema mundial e sua dissolução como alternativa social".
O dirigente zapatista considera mais letais as armas da quarta. Na terceira, embora atômicas, elas se limitaram à dissuasão. Mas hoje as "bombas financeiras explodem nações, destroem as bases de sua soberania". Alcança seu ponto crucial o projeto zapatista de mobilização, também em escala planetária, antineoliberalismo. Os do outro lado jogam a política a segundo plano, concentram todo o poder na economia e não hesitam em destruir a cultura dos oponentes. "De todas as guerras é a mais cruel, torna o planeta um imenso pesadelo", conclui Marcos.
Não haveria outra alternativa senão a junção de forças dos que se dispõem a resistir. O ensaio relaciona situações que podem funcionar como elementos de mobilização. Riquezas se concentram, desigualdades se alargam, a pobreza vai cobrindo porções cada vez maiores. O que se vê é "crime contra a humanidade". Os protagonistas da resistência "serão excluídos". Chiapas será símbolo "da esperança de salvação da humanidade", não só dos índios mexicanos.
Delírio? "É um texto escrito com paixão e eficiência", disse um intelectual europeu fascinado com o zapatismo. Marcos, segundo ele, apoiou-se em documentos da ONU, Banco Mundial ou órgãos similares. Trata de "ler o mundo, não inventá-lo".

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