São Paulo, sexta-feira, 12 de setembro de 1997
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China prepara novo 'choque capitalista'

JAIME SPITZCOVSKY
EDITOR DE EXTERIOR E CIÊNCIA

O Partido Comunista chinês começa hoje em Pequim o seu 15º Congresso, que vai, com a pompa típica das cerimônias dos herdeiros de Mao Tse-tung, anunciar mais um mergulho no mar do capitalismo. Jiang Zemin, o secretário-geral do PC, deve revelar um plano para privatizar empresas estatais e avançar as reformas capitalistas implantadas desde 1978.
Trata-se do primeiro congresso realizado depois da morte de Deng Xiaoping, em fevereiro. Arquiteto das reformas pró-capitalismo, Deng deixou de ocupar cargos oficiais em 1990, indicou Jiang Zemin como seu sucessor, mas manteve influência até morrer.
Jiang Zemin planeja usar o Congresso para confirmar sua posição de principal líder do maior partido do planeta, com 58 milhões de filiados, e que é também único alicerce do poder no país mais populoso do mundo (1,2 bilhão de habitantes).
Realizado a cada cinco anos, o Congresso define mudanças no programa do partido, além de alterações na cúpula partidária. O evento, no entanto, representa uma espécie de ópera de Pequim, seguindo um roteiro determinado em reunião do Comitê Central (órgão executivo do partido), realizada no último fim-de-semana.
Nos tempos de Mao Tse-tung e Deng Xiaoping (veja quadro abaixo), esse líderes impunham sua vontade majestaticamente. Jiang Zemin, sem o carisma e a força política de seus antecessores, se vê obrigado a promover manobras palacianas para superar resistências a seu nome e ganhar apoio.
Não há diferenças ideológicas relevantes entre os principais líderes comunistas chineses. Todos concordam com a necessidade de manter as reformas pró-capitalismo, vestidas sob o nome "socialismo com características chinesas", mas divergem na hora de decidir a velocidade das mudanças.
Acelerador
Jiang Zemin, depois de muita hesitação, parece querer pisar no acelerador. Avalia como inevitável a reforma da maioria das 370 mil indústrias estatais do país, fonte de insistentes prejuízos.
Para se livrar desse fardo econômico, Jiang desenhou um esquema que não prevê uma privatização em massa. Empresas serão privatizadas, mas a maioria delas optará por saídas como fusão com estatais de sucesso, abertura de capital (venda de ações, mas com o governo mantendo controle acionário) ou falência.
Cálculos políticos impõem limites ao plano de Jiang. Ele teme que a privatização em massa provoque uma onda de desemprego e instabilidade social. O setor estatal emprega 110 milhões de chineses, e calcula-se que 30% desses postos de trabalho sejam supérfluos.

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