São Paulo, sábado, 13 de setembro de 1997
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Mercosul e UE são prioritários, diz FHC

CLÓVIS ROSSI
DO CONSELHO EDITORIAL

O presidente Fernando Henrique Cardoso, ao encerrar ontem a cúpula econômica do Mercosul, desenhou uma espécie de tabela de prioridades para a diplomacia brasileira, na qual o Mercosul ocupa, de longe, o primeiro lugar.
Em seguida, vem "uma forte ligação do Mercosul com a União Européia". E só depois, a Alca (Área de Livre Comércio das Américas), por cuja criação os Estados Unidos vêm pressionando fortemente.
FHC só fez reservas exatamente ao tratar da Alca. Depois de dizer que é preciso "avançar sem temor na integração hemisférica", ressalvou: "Mas considerando o tempo, considerando as nossas circunstâncias, negociando ponto a ponto".
Já em relação ao Mercosul, a frase de FHC assemelha-se às "relações carnais" que as autoridades argentinas dizem que seu país gostaria de manter com os EUA.
"É impensável o futuro do Brasil, da Argentina, do Chile, do Paraguai e do Uruguai sem o Mercosul", disse Fernando Henrique.
Por isso mesmo, o presidente fez questão de minimizar a crise do açúcar, que azedou as relações entre os dois países no início da semana. Relatou o telefonema que recebeu de seu colega argentino Carlos Menem com a saída para a crise (parecer da Procuradoria Geral da Argentina considerando inconstitucional a lei que prevê barreiras para o açúcar brasileiro) e disparou: "Nada vai impedir a consolidação do Mercosul".
A distorção dos 10%
Mas o discurso de FHC não ficou na área diplomática. O presidente fez a habitual incursão pela sociologia e citou os autores que sempre cita.
Citou igualmente frases de quem disse nem se lembrar o nome e explicou que já leu tanto que dificilmente "tem idéias próprias".
Usou palavras como "poliarquia" (governo exercido por muitos) e até a "cosmografia ioruba", em que o bem e o mal coexistem, sem que um vença ou supere o outro.
Repetiu dados sobre os avanços do país desde o lançamento do Plano Real, mas admitiu que foi "muito pequena" a melhoria na distribuição de renda.
FHC citou um cálculo que disse ser pouco conhecido até dos brasileiros: é o de que "os 10% mais ricos concentram tanta renda que, se retirarmos (das estatísticas) esses 10%, a distribuição de renda é mais ou menos equivalente à de qualquer outro país do mesmo tipo".
Acrescentou: "Mas, se colocarmos os 10% mais ricos, a distribuição de renda vai lá para os piores lugares do mundo".
Como vem se tornando habitual no mundo todo, o presidente mesclou o papel de sociólogo com o de vendedor do próprio país, ao dizer que os US$ 16 bilhões de investimentos externos previstos para este ano "é muito pouco".
Pediu mais, "muito mais".

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